terça-feira, 22 de setembro de 2009

Como Criar um Ecossistema para Startups no Brasil


Quem não gosta do assunto empreendedorismo que me perdôe, mas eu vou continuar batendo nessa tecla pois acho que o momento é ideal para o Brasil se posicionar melhor como player na área de tecnologia.

Existe um modelo para auxiliar startups fazendo muito sucesso no momento nos Estados Unidos e na Europa. Tratam-se de organizações privadas que investem em empresas nascentes, mas preocupam-se em acompanhá-las muito de perto durante o início do seu ciclo de vida, criando um ecossistema ao redor dos empreendedores de maneira a maximizar o sucesso das empresas participantes.

Pode não soar nada diferente do que temos no Brasil com as incubadoras vinculadas a Universidades, em conjunto com os programas de financiamento do governo. Mas vou explicar como as coisas funcionam em mais detalhe porque acho que realmente esse modelo é mais eficiente em criar o tal do ecossistema que estou me referindo.

Estou falando em particular de duas organizações seguindo esse modelo que parecem ser as de maior sucesso nesse momento: YCombinator (EUA) e SeedCamp (Europa). Ambas funcionam de maneira muito parecida.

Em primeiro lugar essas organizações administram um fundo com capital privado para investimento em empresas de tecnologia. Elas possuem em suas equipes especialistas em investimento e análise de mercado. Anualmente (às vezes com maior frequência), essas organizações abrem inscrições para empreendedores interessados em participar do processo. Os negócios inscritos são então avaliados e um pequeno número é selecionado (algumas dezenas). E aí é que a parte interessante começa.

Essas organizações fazem investimentos individuais em cada uma das empresas selecionadas. Os investimentos são de baixa escala, na faixa de 20.000 dólares na YCombinator e não mais do que 50.000 euros na SeedCamp. As empresas selecionadas são então convidadas a mudarem-se para a estrutura dessas organizações por algumas semanas (via de regra 12 semanas). Geralmente trata-se de um local próximo a um pólo tecnológico relevante - a YCombinator funciona no Vale do Silício e a SeedCamp em Londres. Nesse local então as empresas ficam 'acampadas' durante esse período trabalhando em seus produtos e modelos de negócio. Como todos ficam juntos, trata-se de um excelente ambiente para encontrar sinergias entre as iniciativas, e não é raro os empreendedores colaborarem intensamente entre si.

Em paralelo, a YCombinator e a SeedCamp colocam em prática um plano relâmpago de capacitação para os empreendedores. Normalmente estão incuídos treinamentos e exércitos de consultores e mentores (a SeedCamp trabalha com uma rede de 400 mentores) que auxiliam os empreendedores com questões técnicas, financeiras, legais e de mercado. E não se tratam de treinamentos inúteis com instrutores de segunda linha. Não, são conselhos vindos de grandes nomes da indústria, ex-empreendedores, ex-investidores, etc. Também não é raro uma empresa levantar um segundo round de investimento após um bate-papo com um dos mentores na etapa de acampamento. Enfim, trata-se realmente de um ecossistema. As coisas passam a andar sozinhas.

Eu vejo várias iniciativas no sentido de auxiliar empresas nascentes no Brasil, mas nada parecido. Ainda trabalhamos fortemente com o modelo de incubadoras vinculadas a Universidades, que não é muito mais do que um escritório com conexão à Internet a um custo acessível. Os serviços prestados pelas incubadoras são geralmente incipientes e envolvem uma consultoria com um contador aqui, um evento ali. O investimento ainda é muito dependente do governo, e embora esteja disponível com uma frequência cada vez maior, ainda esbarra na falta de preparo do governo para criar e gerir os programas. Ou alguém acha que o KIT do Prime, que obriga o empreendedor a investir o capital de uma maneira altamente discutível é o caminho a ser seguido?

Precisamos de um ecossistema. Precisamos colocar os empreendedores mais em contato uns com os outros. Precisamos de pólos relevantes. Precisamos de mentores. E precisamos de investimento privado estruturado, mesmo que em baixa escala.

Se alguém souber de algum modelo interessante no Brasil, escreva para mim. Como estou de longe, posso estar pecando pelo desconhecimento.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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