quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Afinal, o que corre nas suas veias?


- Permissão para falar livremente senhor.
Júlio gostava dessa expressão, retirada dos filmes de exército norte-americanos (permission to speak freely sir). Entrou na sala do chefe sem bater e estava nervoso. O chefe o recebeu com um sorriso e logo percebeu que alguma coisa não estava bem.

- Senta aí, me conta o que houve.
Mesmo depois desse tempo todo trabalhando juntos, Júlio ainda ficava impressionado com a calma do sujeito e com sua aptidão para resolver problemas.
- Olha, não quero fazer dessa conversa um muro de lamentações, mas tem muita coisa errada nessa empresa. Começando pelo sujeito do cafezinho...
E desatou a falar relatando tudo que acreditava precisar de solução. Aquilo que estava entalado na sua garganta nas últimas semanas. Quinze minutos depois, um pouco mais aliviado, resolveu perguntar:
- Você acha que estou errado?
- Você está correto na maioria das suas análises relacionadas aos problemas da empresa. Está certo também com a sua indignação. A pergunta agora é: o que você faz com isso? Mas deixa eu contar uma história antes.
- Certa vez, assisti a uma palestra de um CEO de uma grande empresa, uma dessas Melhores para se Trabalhar. Além de um excelente gestor ele era um daqueles oradores capazes de encantar a platéia. Pois bem, ele explicava o processo que utilizava para fazer a seleção dos seus funcionários. Toda vez que encontrava um candidato promissor ele agendava uma segunda entrevista e pedia o seguinte para o sujeito:
- Amanhã pela manhã, quando você estiver escovando os dentes em frente ao espelho, morda o lábio com toda a força que puder. Se ao fizer isso escorrer sangue, volte aqui para a segunda entrevista.

O chefe continuou:
- É claro que isso é uma piada, mas uma piada que ilustra bem o comportamento que ele esperava dos seus funcionários. É um teste que demonstra que o profissional tem vontade de vencer e que não tem "sangue de barata". Esse sentimento, essa raiva, é uma raiva positiva. É importante sentirmos isso vez por outra. Afinal, o oposto disso é a apatia, a indiferença, e quando deixamos de nos importar nada mais resta dentro da empresa.
- Porém, tão importante quanto sentir-se assim, é saber transformar esse sentimento em energia positiva. A indignação tem que gerar vontade de mudança, vontade de fazer as coisas de maneira diferente. E isso precisa se traduzir em um plano de ação concreto. Caso contrário, você corre o risco de ser taxado como mais um reclamão, um sujeito que adora comentar as coisas que estão erradas mas que pouco faz para mudar a situação.

Júlio assentiu com a cabeça, as coisas que o chefe falava faziam sentido.
- Entendo, e acho que você tem razão. Mas certamente eu vou precisar de ajuda para começar esse plano.
- Sem problema, estou aqui para isso. Agora, esquece o cara do cafezinho, você também tem que aprender a escolher melhor as suas brigas.

[]s
Jack DelaVega