terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Cara Ruim


O cara era ruim de jogo. Não, ele era muuuito ruim de jogo. Chamava-se Victor e trabalhava no departamento de TI. Era um incompetente de marca maior, um exemplo para os outros. Não tinha a menor noção das coisas. Na real o coitado era burro. Mas além disso tinha aquela característica a mais que faz os burros serem notados: ele não sabia que era burro.

Trabalhar com ele era um terror. E pior que ele era analista de sistemas, ou seja, tinha certa responsabilidade por tarefas bem importantes no departamento (não se tinha idéia de como ele tinha chegado lá, mas ninguém era tão antigo para saber o porquê).

Ele nunca entendia as coisas de primeira. Parte porque parecia que ele tinha uma certa pressa para tudo. Diálogos como o a seguir ocorriam a toda hora:

- [Fulano] E é assim que o sistema deve funcionar.
- [Victor] Ah, então ele deve fazer A e B ao mesmo tempo?
- [Fulano] Não, como eu acabei de explicar, primeiro ele faz A e depois B.
- [Victor] Por quê?
- [Fulano] Porque é assim que funciona o nosso processo de negócio.
- [Victor] Entendi. Bom, não sei se conseguimos fazer A e B ao mesmo tempo, mas vou conversar com o Carlos da área técnica e te retorno assim que possível. Seria melhor se não precisasse.
- [Fulano] Victor, não queremos A e B ao mesmo tempo. Primeiro A, depois B.
- [Victor] Sim, sim, já entendi.

Nem preciso dizer que volta e meia se percebia que Victor havia 'entendido errado'. O problema era que ele era extremamente voluntarioso. Ele ia atrás de informação, conversava com Deus e o mundo, desenhava diagramas, escrevia documentos, trabalhava que nem um cavalo. O problema, como eu falei, é que muitas vezes ele 'entendia errado' e daí ia tudo na lata do lixo.

Não dava para dizer que ele não dava duro. Que ele não se esforçava. Só que ele simplesmente não conseguia entender as coisas, e ao invés de prestar mais atenção, ir com mais calma, não. Ele pisava fundo, sempre.

Foi então que contrataram o Vicente. Ele ia trabalhar como gerente de projeto na área do Victor. Sua responsabilidade era atender o que o Victor pedia - pois ele definia os sistemas - e controlar a equipe para entregar o esperado.

O problema que logo se percebeu era que o Vicente era igualzinho ao Victor. Burro, mas burro de doer. Esforçado também, muito trabalhador. E teimoso.

Eles passaram a sentar lado a lado. Daí já viu.

Dois meses depois a equipe estava enlouquecida. Victor e Vicente se degladiavam em emails com cópia para a equipe toda, discutindo como o sistema deveria funcionar, ou como haviam entendido um requisito, ou sobre qual opção era melhor de se seguir. Uma bagunça só. E o mais curioso era que os dois não se falavam, quer dizer, fora dos emails. Não viravam a cadeira para o lado para dizer 'vem cá, vamos conversar sobre esse requisito'. Não. Passavam horas debatendo em minúcias as partes mais insignificantes dos sistemas. Tudo por email. Com as opiniões mais estúpidas possíveis. E sempre copiando todos da equipe.

Uma hora o pessoal do desenvolvimento explodiu.

Eles acabaram por hackear os PCs de Victor e Vicente. Instalaram um vírus que os permitia obter controle da máquina. E a cada vez que os dois começavam com a coisa dos emails, o pessoal ia lá e começava a ejetar a bandeja do CD, ou mesmo resetar as máquinas. Tudo muito engraçado.

Engraçado, até o Victor reclamar para a gerência:

- "Meu PC está com algum vírus, e o do Vicente também. Coisa muito estranha. Se eu mando um email com calma, tranquilo, ele vai. Tudo funciona bem. Quando eu estou com pressa, querendo esclarecer alguma coisa, o email não funciona. Quando preciso mandar um email bem importante, tranca tudo, começa uma loucura e a máquina reseta".


Reggie, the Engineer.
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