sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Concurso Público ou Empresa Privada?

Sei que, morando no Brasil, você já teve essa dúvida. Ficar na iniciativa privada ou fazer um concurso público e ingressar em uma carreira pública?

Em épocas de crise mundial, essa pergunta certamente volta à tona. Já me deparei algumas vezes pensando nela. E as razões que voltei a pensar nisso são claras. A iniciativa privada depende do ciclo macroeconômico. Se a economia vai bem, as empresas privadas contratam e dão bônus gordos. Se por outro lado vai mal ou tem uma crise à vista, provavelmente forçará demissões, cancelamento de bônus e retração do crescimento. 

Meu pai um dia me disse uma frase emblemática: “se a crise apertar e as empresas começarem a demitir em massa, um emprego público que pague mil reais que seja será considerado fantástico”. Embora ele seja um funcionário público aposentado, que automaticamente o deixa com uma certa dificuldade em entender como as pessoas lidam com a falta de estabilidade fora do setor público, nada tira a razão de sua frase. Está sintática e semanticamente correta...

Nesse sentido, sou a “ovelha negra” da família: o único que não é concursado; o único sem emprego estável. E confesso que às vezes sou contagiado pelo medo da falta de estabilidade. Por outro lado, adoro o que faço e me sinto desafiado no dia-a-dia. E o medo de perder isso me impediu até hoje de voltar para o serviço público, desde que saí em 1997.

Vamos tentar fazer uma análise fria das características do emprego público, colocando os pontos que mais chamam a atenção nele:

  1. Estabilidade. Realmente, depois de três anos de estágio probatório, o servidor é efetivado e passa a ter estabilidade. Só pode ser demitido por justa causa, ou seja, só se for considerado culpado em algum processo administrativo ou sindicâcia. Se você for um bom trabalhador, isso certamente não irá ocorrer. O problema (e o perigo) é que a estabilidade pode gerar estagnação. Como todos sabem, a preguiça é a força motriz do desenvolvimento. De fato, a maioria das invenções visa tornar as coisas mais fáceis para o ser-humano. Se as coisas já são fáceis e seguras, para que se esforçar? Essa é uma armadilha que certamente muitas pessoas caem e depois têm que agüentar trabalhar desmotivadas durante anos. Na empresa privada, a única compensação pela falta de estabilidade é o FGTS, que não é lá essas coisas (8% do salário ao mês), mas é uma poupança que pode vir bem a calhar.
  2. Não Exige Experiência Anterior. Isso pode ser uma vantagem fenomenal para quem está começando agora e quer iniciar sua carreira com um salário alto em um concurso público, mas também pode ser desvantagem para quem já está no mercado há muitos anos. No caso dos últimos, muitas vezes isso significa se preparar para começar uma carreira nova ou muitas vezes ter que dar um ou mais passos para trás para entrar no setor público. Esse, na verdade, é um dos fatores que mais tem me deixado afastado dos concursos públicos.
  3. Praticamente Não Possuem Limite de Idade (65 anos). Essa é certamente uma GRANDE vantagem para quem foi demitido do setor privado com 50 anos de idade, por exemplo. Algumas empresas privadas têm uma tendência de olhar com maus olhos pessoas mais velhas à procura de emprego e o concurso público, nesses casos, pode ser a salvação.
  4. Os Salários são Acima da Média. É claro que aqui estamos falando geralmente de salários também de início de careira no setor privado, embora existam muitos concursos públicos que pagam muito mais do que algumas profissões mesmo em fim de carreira. Na média geral, o emprego público dá de lavada. O salário médio do servidor público é de R$ 1.298 contra apenas R$ 771 no setor privado (fonte UOL). Mas tudo depende da sua posição e salário atuais e qual a perspectiva de crescimento que você percebe do mercado profissional em sua área. Mesmo aquelas carreiras que historicamente recebem pouco na iniciativa privada (como fonoaudiólogo e fisioterapeuta, por exemplo), sempre terão um lugar para pessoas excelentes, aquelas que fazem o que gostam e se esforçam para tal. Elas sempre terão a chance de ganhar um salário de Romário. O grande problema, nesse caso, é que existem muito poucos Romários no mundo...
  5. Aposentadoria Superior. Quem atende aos requisitos impostos pelas emendas constitucionais aprovadas em 1998 e 2003, aposenta-se com salário integral como servidor público. Isso é realmente muito melhor do que a aposentadoria do INSS, que geralmente exige um reforço particular em algum plano de previdência. Muitas empresas privadas, entretanto, dão uma ajuda no plano de aposentadoria privado, o que pode deixar as coisas elas por elas.
Enfim, é uma escolha muito pessoal qual caminho escolher. Há muitos fatores a considerar, muitas vezes incluindo a mudança de cidade ou de estado. Entretanto, a crise econômica certamente deixou os concursos mais atrativos. O setor público é responsável por nada menos que 11% da força de trabalho total brasileira.

Do meu lado, vou continuar pensando. Motivado do jeito que estou agora, ou o medo da crise aumenta ou vou ter que achar um concurso muito bom. Por enquanto, vou continuar sendo a “ovelha negra” da familia.

Dr. Zambol
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