quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pergunta do Leitor: Maquiavel e as Empresas

PERGUNTA DO LEITOR

Olá Pessoal.
Me chamo VA [Nome Mantido sob Sigilo]

Gostaria de esclarecer dúvidas quanto as Condutas que um Gerente / Líder deve manter ou evitar, conforme:

Por que evitar alianças desvantajosas?
Por que evitar fazer ameaças?

sitações do livro "Maquiavel na administração" - Gerald R. Griffin - Editora Atlas.

Aguardo e agradeço


RESPOSTA DA TRIBO

Embora não conheça a obra citada, não há filósofo político mais conhecido do que Niccolo Machiavelli, cuja maior obra escrita é "O Príncipe". As comparações com as empresas e a política empresarial é utilizada devido as semelhanças de uma empresa a um principado, onde o poder é exercido por uma autoridade (o CEO) e não compartilhado entre o povo, como na república. Aliás, Reggie já falou um pouco sobre isso em seu post A Queda da Democracia.

Mas vamos à pergunta. Em primeiro lugar, gostaria de responder sobre "Por que evitar fazer ameaças".

Para mim, a resposta a essa pergunta tem tudo a ver com motivação (meu post "Duas Palavras em Uma: MotiVação" disserta um pouco sobre o assunto). As ameaças só funcionam no curto prazo. Imagine o gerente de uma equipe trabalhar da seguinte forma: "Ou entregamos no prazo, ou cabeças vão rolar".

Ora, a frase em si não diz absolutamente nada. Não está estimulando o time, apenas pressionando. Como sabemos, cada pessoa reage diferentemente a uma mesma situação. Existem pessoas que simplesmente "travam" com o medo ou a pressão. Outras, funcionam até melhor embaixo de mal tempo. Isso, no tênis, é bastante visível. Há jogadores bastante conhecidos por jogarem melhor quando estão atrás do placar e com o público contra, pois tiram força da raiva. Outros, jogam magnificamente quando estão na frente do placar, mas basta uma reclamação de uma bola fora errada com a repreenda do público, que desanda completamente até conseguir se acalmar novamente - o que às vezes já é tarde demais.

Imagine agora a ameaça sendo feito em um time grande, onde certamente temos os dois tipos de pessoas. O dano de uma ameaça pode ser irreversível.

Aliás, você sabia que muitos especialistas dizem que a diferença entre os 100 melhores tenistas do mundo não seria essencialmente a técnica - que seria muito similar entre eles - mas sim a forma como lidam com as situaçãos, ou seja, o psicológico? Incrível, não? O número 1 e o número 100 com técnicas muito similares mas formas de abordar o jogo e capacidade de decisão (devo me aproximar agora da rede ou devo jogar mais uma bola longa antes?) bastante diferentes...

Outra razão que a ameaça é um "tiro no pé" é a conseqüência gerada. Se o projeto não for entregue no prazo por alguma razão, ele terá duas opções: ou realmente demite algumas pessoas, o que pode ser uma ação perde-perde, pois a demissão infundada não faz bem nem à empresa nem ao funcionário - ou ele não cumpre o que prometeu e cai no descrédito de todos. Seja qual for a decisão do gerente ameaçador, haverá perda.

Entender o porquê do projeto estar atrasado, fazer o time identificar as formas e os caminhos de acelerá-lo e criar um senso de responsabilidade para que as ações sejam cumpridas e para que o projeto seja entregue no prazo, cria uma sinergia que pode realmente acelerar as entregas. Além disso, um comprometimento vindo do time tem muito mais valor do que uma ordem de cima. E como sabemos, o empowerment só é possível através de um time motivado e que acredita nos valores do projeto. A ameaça só joga contra a sinergia.

Quanto a pergunta "Por que evitar alianças desvantajosas?", vou respondê-la à luz de que ninguém quer fazer uma aliança desvantajosa para si mesmo e, por essa razão, estaríamos falando de uma aliança desvantajosa para a outra parte, ou seja, uma situação ganha-perde.

O interessante é que a resposta dessa pergunta converge com a resposta da outra: só funciona a curto prazo.

Imagine que você tem 2 milhões de reais para investir e tem uma idéia que você não sabe como nunca ninguém teve antes: criar uma loja de luxo, no melhor shopping da cidade, vendendo roupas populares made in China com sua marca "Le Grand Armarie" estampada. O negócio parece ideal: você compra as camisas sociais por 12 reais e revende por 350, o mesmo preço das melhores marcas do mercado. Para completar, você contrata modelos famosas e faz uma campanha de marketing gigante em cima da sua nova loja: "Só classe A veste Le Grand Armarie".

Certamente estamos falando de uma aliança desvantajosa aqui - o típico ganha-perde. O consumidor que comprar uma camisa aparentemente de primeira linha, na primeira ou segunda lavada descobrirá que o produto é um lixo.

A idéia pode até funcionar nos primeiros meses, quando a novidade estiver no ar e todo mundo estiver querendo ter a exclusividade de suas roupas. Mas não se engane. Logo que os consumidores começarem a comentar da qualidade deplorável das roupas vendidas por "Le Grand Armarie", o seu sucesso já terá data marcada para acabar. E a lógica é simples: notícia ruim se espalha muito mais rápido do que notícias boas. Leva-se anos para se criar uma boa reputação mas minutos para destruí-la.

Dentro da empresa, mesmo entre gerente e funcionário, uma aliança ganha-perde terá o mesmo destino: perderá completamente o seu valor no momento que o primeiro funcionário perceber no que meteu. Com a equipe toda contra o gerente, as chances do "perde" da equação virar contra o gerente são enormes, pois um gerente sem um time, como todos sabemos, não é nada...

VA, muito obrigado pela sua excelente pergunta. Espero que tenha conseguido respondê-la.
Continue conosco!

Dr. Zambol
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