segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Posso te dar um Feedback?

Confesso que, depois desses anos todos de vida corporativa, ainda sinto um friozinho na espinha cada vez que sou abordado com essa pergunta. Mas meu problema não é com o Feedback propriamente dito; palavra que, diga-se de passagem, nem a tradução para o português é boa. Frequentemente é traduzida como retorno, ou pior, retroalimentação. Mesmo a versão em Português da Wikipedia, que possui algumas traduções para essa palavra, não cobre atualmente o seu o sentido organizacional. Mas, independente da tradução, Feedback já entrou no jargão de nossas corporações, ao ponto de cair no lugar comum. Prova disso é que, uma em cada três cartelas do Business Bingo contém a palavra Feedback.

Mas é só alguém me chamar num canto e falar: “Posso te dar um Feedback?que o problema começa. Às vezes, penso seriamente em responder não, só para ver a cara do sujeito.

Voltando a minha questão inicial, não é que eu seja avesso à Feedback. O meu problema é com a frase "Posso te dar um feedback", que, no meu entender, soa tão errada quanto: “Posso ser honesto contigo?” ou "Para ser sincero". Como se não tivéssemos a obrigação moral de sermos honestos, sinceros e provermos Feedback para quem precisa.

Porém, quando estamos fora do ambiente corporativo, é isso que fazemos o tempo todo, com familiares e amigos. Quem nunca participou de um almoço de domingo no qual um parente exagera na cerveja e começa uma sessão de Feedback com o cunhado ou a sogra? O problema é que as regras do mundo pessoal, muitas vezes, não valem no mundo organizacional. Isso sem contar que a cafeína não é tão eficaz quanto o álcool como elixir da verdade.
Meu ponto é que os Feedbacks mais valiosos são aqueles que a gente recebe no dia-a-dia, sem aquela paradinha para dar Feedback. E aqueles que esperam esse tipo de "Feedback Explícito" para inciar uma mudança de comportamento estão se enganando e perdendo um tempo precioso.

Um dos grandes gerentes que eu tive uma vez me comentou:
- Cara, eu comecei a me dar conta de que exercia liderança sobre as pessoas quando elas me abordavam dizendo: “Como tu falou naquela ocasião”. Ou seja, as pessoas lembravam do que eu tinha falado. E o pior, às vezes, nem eu mesmo lembrava mais o que tinha dito.
Isso é Feedback.
Do outro lado, o que devemos pesar mais? As respostas positivas de nossos colegas para a apresentação do relatório semanal ou o fato da maioria deles estar bocejando, respondendo e-mails ou atendendo ao celular durante a apresentação? Recebemos Feedback verbal e não-verbal o tempo todo, querendo ou não querendo, estando atentos a ele ou não.
Eu termino esse post pensando, será que o fato de não receber comentários sobre um determinando texto, significa que o leitor não gostou dele? Olha o Feedback aí.

[]s
Jack DelaVega