Confesso que, depois desses anos todos de vida corporativa, ainda sinto um friozinho na espinha cada vez que sou abordado com essa pergunta. Mas meu problema não é com o Feedback propriamente dito; palavra que, diga-se de passagem, nem a tradução para o português é boa. Frequentemente é traduzida como retorno, ou pior, retroalimentação. Mesmo a versão em Português da Wikipedia, que possui algumas traduções para essa palavra, não cobre atualmente o seu o sentido organizacional. Mas, independente da tradução, Feedback já entrou no jargão de nossas corporações, ao ponto de cair no lugar comum. Prova disso é que, uma em cada três cartelas do Business Bingo contém a palavra Feedback.
Mas é só alguém me chamar num canto e falar: “Posso te dar um Feedback?” que o problema começa. Às vezes, penso seriamente em responder não, só para ver a cara do sujeito.
Voltando a minha questão inicial, não é que eu seja avesso à Feedback. O meu problema é com a frase "Posso te dar um feedback", que, no meu entender, soa tão errada quanto: “Posso ser honesto contigo?” ou "Para ser sincero". Como se não tivéssemos a obrigação moral de sermos honestos, sinceros e provermos Feedback para quem precisa.
Porém, quando estamos fora do ambiente corporativo, é isso que fazemos o tempo todo, com familiares e amigos. Quem nunca participou de um almoço de domingo no qual um parente exagera na cerveja e começa uma sessão de Feedback com o cunhado ou a sogra? O problema é que as regras do mundo pessoal, muitas vezes, não valem no mundo organizacional. Isso sem contar que a cafeína não é tão eficaz quanto o álcool como elixir da verdade.
Meu ponto é que os Feedbacks mais valiosos são aqueles que a gente recebe no dia-a-dia, sem aquela paradinha para dar Feedback. E aqueles que esperam esse tipo de "Feedback Explícito" para inciar uma mudança de comportamento estão se enganando e perdendo um tempo precioso.
Um dos grandes gerentes que eu tive uma vez me comentou:
- Cara, eu comecei a me dar conta de que exercia liderança sobre as pessoas quando elas me abordavam dizendo: “Como tu falou naquela ocasião”. Ou seja, as pessoas lembravam do que eu tinha falado. E o pior, às vezes, nem eu mesmo lembrava mais o que tinha dito.
Isso é Feedback.
Do outro lado, o que devemos pesar mais? As respostas positivas de nossos colegas para a apresentação do relatório semanal ou o fato da maioria deles estar bocejando, respondendo e-mails ou atendendo ao celular durante a apresentação? Recebemos Feedback verbal e não-verbal o tempo todo, querendo ou não querendo, estando atentos a ele ou não.
Eu termino esse post pensando, será que o fato de não receber comentários sobre um determinando texto, significa que o leitor não gostou dele? Olha o Feedback aí.
[]s
Jack DelaVega