segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sujando as Mãos

Era semana de natal. Todo mundo preocupado com as compras de fim de ano, amigo-secreto, presentes, preparativos para a ceia. Nos corredores da empresa a caixa de papelão decorada com motivos natalinos coletava bolas e bonecas a serem doadas para uma creche próxima. Mas naquele anos ela estava estranhamente vazia.


Empresas de tecnologia contratam profissionais de alto valor agregado. Tudo bem, nem todo mundo ganha o que quer, mas se compararmos com a média da população brasileira estamos normalmente naqueles 5% que contribuem com a alíquota máxima do imposto de renda. E a nossa empresa não era muito diferente disso. Também não éramos do tipo de pessoas sem consciência social. Na última campanha do agasalho arrecadamos aproximadamente 200 quilos de cobertores. Coletando latinhas de refrigerante para reciclagem, enchemos quase um caminhão. O preço estipulado do presente era algo em torno de R$15, nada exorbitante, principalmente em tempos de décimo terceiro. Me chamou atenção, então, o fato de que as caixas estava vazias praticamente na véspera de natal.


Finalmente, um e-mail de esclarecimento veio ao meu socorro, ele dizia mais ou menos assim:

“Para aqueles que ainda não contribuíram com a nossa a doação para o Orfanato, segue uma alteração no processo: Não é mais necessário que o doador esteja presente no Orfanato para fazer a doação, nosso time vai coletar os brinquedos ou o dinheiro para fazermos a compra, e efetuar a entrega."


Depois do meio dia a caixa já estava lotada. E aqueles que não tiveram tempo de comprar o brinquedo acabaram por contribuir com o dinheiro. Cento e cinquenta brinquedos distribuídos ao total. Ficou claro que o problema não era a falta de consciência social. O que ninguém queria, na verdade, era o contato com as pessoas, o vínculo emocional. Tenho amigos que são voluntários em creches, outros que fazem sopa para velhinhos. Conto essa história com vergonha pois fui um dos que só contribuiu depois que o e-mail chegou.

 

Empresas investem em programas de responsabilidade social, mas na maioria das vezes estão tão preocupadas em ajudar os outros que esquecem dos benefícios que tais ações podem trazer para os seus funcionários. Que a doação é necessária, isso não se discute, ainda mais em um país como o nosso. Porém, mais do que contribuir talvez devêssemos incentivar a participação. 


[]s

Jack DelaVega