segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Recolocação - Parte 3

Júlio ficou olhando para as paredes esperando o outro sujeito. A entrevista começaria em alguns momentos e ele aproveitou o tempo para fazer uma revisão mental dos últimos preparativos. O sujeito entrou logo se apresentando, com um forte aperto de mãos. Depois das introduções e generalidades, a conversa entrou no que interessava:
- Me conte um pouco de você, fale das suas realizações, seus pontos fortes, fracos.
Lá vamos nós de novo...

O papo fluiu bem, muito bem para uma entrevista. E no final, como acontece nas boas entrevistas, a balança de poder se alterou e coube ao entrevistado fazer as perguntas e ao entrevistador o papel de convencimento:
- E como é trabalhar nessa empresa?
- Olha, aqui tem trabalho para caramba, muito trabalho. Melhor dizendo, muitos desafios. Hoje já somos o número 1 no nosso setor, mas o mercado está crescendo a uma taxa de 30% ao ano. Já imaginou? É praticamente descer as cataratas do Niagara em um barril, tudo acontece muito rápido. Estamos profissionalizando a gestão, só esse ano já são 4 novos diretores. E temos que preparar a empresa para todo esse crescimento. Criar novos produtos, sistemas e processos novos. Inicialmente você pode até ficar frustrado por não ter os processos de uma empresa consolidada mas, por outro lado, você terá o prazer e o desafio de criá-los.

Os olhos de Júlio brilhavam enquanto ele dizia essas palavras, que contagiaram o entrevistado da mesma maneira. Fecharam a contratação com o mesmo aperto de mãos forte, olhando nos olhos.

Há algumas semanas Júlio passou pela situação inversa, quando foi entrevistado pelo seu ainda futuro chefe na mesma empresa. Além de salário e benefícios competitivos, Júlio  estava procurando um projeto no qual acreditasse novamente. Um lugar onde pudesse construir. Quem já participou de uma start-up conhece esse sentimento. É aquele frio na barriga que se sente quando se enfrenta um grande desafio. Mas ao mesmo tempo é aquela energia, a certeza do grupo de que os obstáculos serão superados e que o resultado será algo formidável. Grandes empresas são aquelas que conseguem manter o clima de start-up mesmo depois de anos de operação. 

Júlio encontrou isso nas palavras de seu novo chefe e aceitou o desafio. Lembrou do personagem de Tom Hanks em O Naufrago, que a despeito de todos os riscos decidiu construir uma balsa para enfrentar o mar aberto e voltar para casa. O futuro já não era tão certo, mas era desafiador, e isso lhe bastava.

[]s
Jack DelaVega
_____________________________
Leia Mais: