quarta-feira, 5 de março de 2008

O Mundo Quase de Graça

Ontem, no nosso site de Opinião, publiquei um breve texto recomendando a leitura do novo artigo de Chris Anderson, o autor de A Cauda Longa. Nesse post, abordarei o tema de uma forma mais prática. Mas já vou dizendo: a leitura do artigo de Anderson é indispensável!

Antes de entrar no post em si, deixe-me dar uma breve explicação sobre essa nova iniciativa. Para quem não conhece, é em opiniao.tribodomouse.com.br que estaremos colocando diversas novidades, artigos, dicas e outros textos de atualização e leitura para você. Diferente da Tribo do Mouse, ele não terá regra de publicação. Pode haver 20 posts em um único dia. Tudo vai depender das novidades do mercado. Ainda estamos esquentando os motores, mas acreditamos ter material suficiente para transformá-lo num dos melhores sites do gênero do país, principalmente para aqueles que gostam de informática. Assine o site da Opinião Tribo aqui e não perca nenhuma novidade!

Bom, mas vamos voltar ao post - e vamos iniciar com a historinha...


Joãozinho decide abrir uma empresa. Infelizmente, ele não tem muito dinheiro, só idéias. A primeira coisa que ele precisa é de um domínio. Com um desembolso de 10 dólares ele sai com seu domínio "www.joaozinhoApps.com" registrado. Se quisesse um ".info", ele conseguiria por 3 dólares na GoDaddy.

Agora Joãozinho precisa criar a página principal de sua empresa.

Com o Google Sites, de graça, ele tem uma infraestrutura que armazena até 10Gb em documentos e páginas e, de lambuja, consegue criar a Intranet da empresa também, onde poderá compartilhar documentos, vídeos e outras coisas com seus futuros empregados.

Joãozinho contrata seu gerente de desenvolvimento, o Pedrinho, e um desenvolvedor Java, o Roberto. Ele precisa de um e-mail para eles, o que consegue sem nenhum custo usando o Google Apps. Com essa simples "aquisição" ele ganha:
  • Contas de e-mail para seus 2 novos funcionários e para todos os outros novos que vierem. As contas são todas nome@joaozinhoapps.com, que torna visual bem profissional, e possuem 25Gb de armazenamento.
  • Word, Excel e PowerPoint on-line, com controle de versão para compartilhar com todos os seus funcionários.

  • Chat para comunicar com qualquer pessoa.

  • Um calendário estilo "Outlook", on-line, para agendar reuniões e outras tarefas. Os avisos podem ser enviados via SMS.

Desembolso até o momento (fora funcionários): 10 dólares.

Mas o problema ainda está por vir. Joãozinho precisa agora desenvolver seu produto: um aplicativo Windows para gerenciamento de despesas. "Sei que posso bater o Money da Microsoft com um bom produto e um bom marketing", pensa ele sempre.

Em uma reunião, Pedrinho, seu novo gerente, fala sobre oDesk. oDesk é um site de outsourcing. Programadores do mundo inteiro se cadastram lá e cobram por hora trabalhada. Compradores podem submeter projetos e contratar o serviço das pessoas. oDesk é tão bom que a hora trabalhada é a hora trabalhada mesmo. Para que um programador se cadastre lá, ele precisa instalar uma Webcam e ter o software da oDesk instalado em seu computador local, que tira um snapshop da tela e uma foto da Webcam de tempos em tempos. Se o programador for no banheiro, ele precisa parar o relógio. Isso faz com que as horas pagas sejam realmente horas trabalhadas.

Joãozinho acha muito boa idéia, mas ainda acha 20 dólares a hora um pouco caro, já que prevê em torno de duas mil horas de programação. É aí que Roberto, fala para ele:

- Eu estou cadastrado lá, pois preciso de dinheiro extra e trabalho no oDesk à noite. No início, mantive meu preço lá como US$0,01/hora. Como a única forma de ser escolhido em projetos grandes e que pagam bem é a gente já ter várias horas trabalhadas, tem muita gente boa que faz isso para aumentar o seu escore. Porque não tenta montar um time só com essas pessoas?

Joãozinho então faz uma busca no oDesk e encontra 165 profissinais cobrando menos do que 1 dólar a hora - sendo que a grande maioria dos 165 não cobra nada.

- Mas é muito arriscado, pode dar problema, não sabemos quem eles são, lembra Joãozinho.
- Então contrata diversos testers de graça também...

Convencido, Joãozinho faz isso. Demite Pedrinho, seu recém-contratado gerente e contrata, pelo oDesk, um gerente de projetos bastante experiente, por 30 dólares a hora. Cabe ao gerente de projetos contratar o time no oDesk (com o preço especificado) e lhe entregar o produto funcionando.

Algum tempo depois, pagando apenas 4 mil dólares para seu gerente de projeto (Dev e Teste saíram de graça), o produto está pronto.

Joãozinho então coloca o produto no mercado e as vendas começam a acontecer. Logo, ele percebe que precisa de uma ferramenta de CRM. Roberto lhe chama a atenção:

- O Zoho pode resolver o seu problema, de graça!

Quando Joãozinho se cadastra no site, fica abismado: não só tem uma ferramente de CRM pronta para ele usar, como também pode utilizar banco de dados, Wiki, Web Conferencing e Project, tudo de graça. Demite Roberto e implementa ele mesmo a solução.

Poderia passar mais um bom tempo aqui falando das peripércias de Joãozinho gerenciando sua empresa quase de graça (como podutos para analisar a concorrência [como o Alexa ou o Quantcast] e muitos outros). É incrível o que conseguimos fazer hoje sem pagar nada - ou quase nada.

Você pode estar se perguntando: "De onde essas empresas ganham dinheiro?". A idéia por trás de tudo isso é a mesma: dar alguma coisa de graça para conseguir (1) ter publicidade, (2) vender outro serviço ou produto, (3) ganhar dinheiro quando o usuário precisar fazer upgrade da versão básica (vemos isso bastante na abordagem do Google) ou (4) vender consultorias em cima dos produtos.

O senhor Gillete já fazia isso há mais de cem anos atrás: às vezes dava de graça ou vendia a preços baixíssimos os barbeadores para gerar demanda para a reposição de lâminas. Um exemplo moderno da Gillete são as impressoras de jato de tinta, que são vendidas abaixo do custo para que se ganhe dinheiro na reposição do cartucho. A HP é líder nessa tática, possuindo às vezes menos de 3ml de tinta no cartucho (cartuchos antigos da empresa possuíam 40ml) e vendendo-os mais caros que os cartuchos com mais de 10ml da Canon (uma das marcas que menos usa essa técnica).

A banda Calypso usa uma forma modificada dessa "metodologia": imprime CDs oficiais e dá a diversos camelôs, por onde quer que passem. A única coisa que pedem em troca (já como os camelôs não pagam nada e ficam com todo o lucro) é oferecer seu CD antes e deixá-lo bem à mostra. O resultado é que a banda ficou famosa - muito famosa. A renda da banda é concentrada em shows e o público, como se poderia esperar, é enorme. Boa parte conhece a banda através do CD oficial que compraram do camelô a um preço baixíssimo.

Só com a renda dos shows, que são um sucesso devido ao grande público que sempre pede a sua volta, já compraram um avião para facilitar as idas e vindas.

Estamos num mundo novo. O modelo de negócio de CD comprado na loja já está falido. Talvez até o de venda na Internet já esteja também. É necessário ser criativo e ver como pode-se atrair o grande público. E a solução de "dar algo de graça" está se tornando 0 novo padrão de marketing, principalmente no mundo on-line.

Não se preocupe. Nós, da Tribo, logo estaremos dando canecas, camisetas e outros brindes para você. Continue acompanhando, pois queremos entrar, e com força, nesse novo mercado.

Dr. Zambol
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