quarta-feira, 26 de março de 2008

Gerência de Projetos: Segurança do Presidente dos EUA

O filme Ponto de Vista (Advantage Point, em inglês), em cartaz atualmente, relata a tentativa de assassinato ao presidente dos EUA, contando a mesma história sobre diferentes ângulos, montando as peças do quebra-cabeças.

Depois de assistir ao filme, fiquei bastante intrigado. Sabia que casos parecidos já ocorreram, como a morte de Kennedy. Mas achava que com a tecnologia e os cuidados atuais, isso seria muito difícil - quase impraticável. Impossível não, é claro. É só pensar que basta apenas um dos atiradores de elite ser um traidor que tudo vai por água abaixo.

Mas o que mais me impressionou naquele dia foi o que aprendi quando cheguei em casa e fiz uma pesquisa sobre o esquema de segurança montado em cada viagem do presidente. É incrível. Para se ter idéia do que estou falando, deixe-me expor alguns números. A cada viagem do presidente, estamos falando em transportar:

  • 2 jatos 747-200, um jumbo fretado, um helicóptero Sirosky Sea King, um helicótero Black Hawk e duas frotas idênticas de 20 veículos blindados, incluindo a limusine (que possui blindagem de 12cm de espessura - contra granadas anti-tanques).

  • 250 agentes secretos, 150 conselheiros de segurança, 50 ajudantes e políticos da Casa Branca, 15 cães farejadores, 200 representantes de outros departamentos dos EUA, o chef e mais 4 cozinheiros.

  • Tudo o que o presidente usa e toca, como bebidas, comida, gasolina, etc.

A execução também é bastante ousada. Agentes secretos são enviados antes para verificar cada detalhe do itinerário, verificando os riscos e como mitigá-los. O plano de segurança é montado antecipadamente - cada lugar possui detalhes característicos que tornam o plano bastante distinto da viagem anterior. Quando o presidente chega, medidas bastante radicais são exigidas como, por exemplo, fechar um raio de 5 a 20 km do espaço-aéreo por onde o presidente irá passar. Até em jantares oficiais, exige-se que todos passem por uma minuciosa revista, causando alguns incidentes diplomáticos, como o que ocorreu no Chile quando os senadores e suas esposas se negaram a ser revistados e o jantar foi cancelado.

Imagine se o telefone toca agora na sua casa e a Casa Branca é que está do outro lado. Eles estão lhe oferendo, em troca de um excelente salário, que você seja o gerente de projetos responsável pela segurança do presidente dos EUA nas suas próximas viagens. Você iria aceitar?

Não sei quanto a você, mas eu aceitaria. Estou em uma fase de vida em que o desafio vale mais do que tudo. Como estaria sendo contratado como gerente de projetos, sei que não precisaria ser especialista no assunto de segurança nacional. Ainda, sei que teria orçamento para ter ao meu lado os melhores consultores de segurança do mundo. A partir disso, basta usar a regra "dividir para conquistar", que, na minha opinião, resolve praticamente tudo.

E é esse o pensamento que queria deixar com esse post: que a capacidade para gerenciar um projeto grande, seja de informática ou de segurança nacional, depende de como você o divide em partes. E que para aprender a melhor forma de dividir um projeto em diversas partes necessita que você (1) Não tome decisões antes de conhecer seu time e (2) Tenha ouvido os melhores especialistas ao seu alcance sobre alquele assunto.

Ou seja, o que quero falar reflete minha crença no que considero as ações essenciais de um gerente / gerente de projetos quando inicia em um novo time:

1) Ouvir todas as pessoas do seu time direto. Ter reuniões separadas com todos a partir do momento que assume a nova função. Perguntar a todos "O que está errado" e "Onde posso ajudar a melhorar o ambiente e a execução".
2) Ter reuniões periódicas com todo o seu time (direto e indireto) e dizer que está disposto a ouvir quem tenha soluções para melhorar os processos X, Y e Z.
3) Dividir os seus processos em processos gerenciáveis em tamanho. No exemplo da segurança do presidente, poderíamos ter um gerente de projetos para a segurança in-loco do hotel, outro para a segurança dos lugares onde haverá discurso, outro para a segurança aérea e assim por diante. Com uma comunicação ativa entre essas pessoas, o que pode incluir reuniões SCRUM (reuniões de andamento e retirada de obstáculos) diárias com todos os gerentes de projeto, a chance de sucesso aumenta em muito.

Já vi gerentes iniciarem em times e, sem nem conhecer o time ou o trabalho diário, baixarem medidas que mudam todo o fluxo do processo. Para mim, além de falta de inteligência, isso demonstra que o gerente provavelmente não tem capacidade técnica e segurança para ter a humildade de passar a mensagem a todos: tenho que aprender o que está ocorrendo aqui antes de tomar decisões. Mesmo se você conhece muito o domínio, cada organização tem um andamento e regras específicos.

Fazendo os passos acima, tenho certeza que teria uma chance bem grande de sucesso nesse projeto, mesmo que seja gigante como é. O problema é que não sei o que aconteceria comigo em caso de fracasso...

E você, aceitaria o desafio de gerenciar esse projeto?

Dr. Zambol
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