sexta-feira, 20 de julho de 2007

Vergonha

Peço licença aos amigos para mudar um pouco o rumo da prosa. Essa semana é de luto. No dia 17 de julho último, aproximadamente 200 pessoas morreram no mais grave acidente aéreo da história do Brasil. A maior parte gaúchos como eu. Me perdôem, mas preciso dizer que senti vergonha de ser brasileiro.

Vergonha por muitas vezes não fazer a coisa certa no dia-a-dia. No Brasil, acredito que um pouco mais do que em vários outros países, somos fãs da "solução de contorno". Não aquela bonita da matemática superior, mas aquela que nos afasta do cerne dos problemas e nos faz usar o já sem-graça "jeitinho". Aquela mania que temos de colocar um cavalete em frente ao buraco da avenida ao invés de fechá-lo. Ou que nos faz colocar as insuperáveis placas "nunca tranque o cruzamento" ao invés de avançar com tecnologia e pesquisa sobre o problema do trânsito. A mesma mentalidade de malandro-porco que acaba colocando em posições de chefia nas mais importantes instituições nacionais parceiros políticos-partidários, amigos de ocasião e sangue-sugas de plantão. Vergonha.

Vergonha por não discutir mais seriamente os problemas do meu país. Falamos muito de futebol, de novela, do que a mídia quer que falemos. E debatemos pouco em rodas de amigos ou em casa o futuro dos nossos filhos e netos neste eterno "país do futuro". Nós brasileiros somos pacatos, não gostamos de nos indispor uns com os outros por qualquer coisa. Tomamos partido sim, sempre somos contra ou a favor. Mas escondemos as razões, ocultamos os argumentos... nunca gostamos de transformar um papo agradável em uma discussão séria. Vergonha.

Vergonha por agir pouco. Quando a situação chega ao extremo às vezes acontece algo. Mas nunca vi um país com tão poucos protestos públicos como o Brasil. Nossa capacidade de indignação anda muito reduzida. Devem ter sido os anos de ditadura. Até uma vaia de nada no Maracanã logo é motivo de retaliação. "O que é isso? Vaia? Deve ser a elite..." Queria ver os hermanos argentinos em uma situação parecida. Ou os franceses, alemães... pobre governo. Vergonha.

Certamente existirão oportunistas para, com um canto de sorriso, dizer que esse número de pessoas morre por mês em homicídios no estado de São Paulo. Que o barulho todo sobre o acidente aéreo se dá porque são pessoas da elite que ali estavam. E os oportunistas estarão certos. Vergonha de uma pátria que se mobiliza mais por alguns de seus filhos do que por outros. Aliás, muito mais por alguns poucos ultimamente (e aí os oportunistas se calarão novamente). O que sentir, além de vergonha?

Algo precisa ser mudado. Não sei exatamente o quê. Como sou da área de TI, sugeriria ao Brasil apertar o botão de "reset" e começar tudo de novo. Não é possível, infelizmente. Talvez tenhamos que começar com pouco, olhando longe e persistindo. Um bom começo talvez seja nos permitirmos a humildade de ter vergonha. E transformar isso em vergonha na cara.

Reggie, the Engineer.
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