sábado, 7 de julho de 2007

Fazendo a coisa certa

A maioria de vocês já conhece o Larry. Lá estava ele, naquela fase próspera de sua vida profissional. Salário, reconhecimento, blá, blá, blá. Mas o foco dele naquele momento era "métricas".


Há algum tempo imerso em culturas organizacionais ditas "de ponta", Larry estava com compulsão por medir as coisas. No trabalho, media o número de linhas de código por projeto, número de projetos entregues no ano (com percentual de atrasos na entrega). Media o retorno financeiro dos projetos para a empresa, entre outras dezenas de métricas. Em casa, tinha uma planilha para acompanhamento de suas finanças, com gráficos e tudo. Sabia quanto em média seu salário anual havia aumentado nos últimos 5 anos. Nunca contou para ninguém, mas eu sei que ele controlava até o número médio de relações sexuais por semana, com desvio-padrão e tudo.

Assim como o Neo passou a enxergar os caracteres verdinhos da Matrix, Larry estava vivendo em função de métricas. Nada de anormal para ele, afinal, o contexto organizacional no qual ele estava inserido fomentava aquilo.

Um belo dia, Larry chegou no trabalho pela manhã. A princípio seria mais um dia naquele projeto fantástico e crítico em que ele estava trabalhando. Mas não foi um dia comum. Larry viu-se diante de um problema. Algo que ninguém havia percebido antes e que rapidamente se mostrou uma barreira intransponível para o projeto. Não mais que de repente, uma encruzilhada desenhou-se à sua frente. Seguindo o caminho padrão, Larry reduziria o escopo do projeto a algumas poucas funcionalidades devido ao problema detectado. A entrega do projeto estaria garantida, os riscos seriam minimizados, os ânimos acalmados, e principalmente, as métricas não seriam afetadas. Seria entregue mais um projeto no prazo, dentro do orçamento, segundo o que o cliente desejava (dentro do possível).

E havia o outro caminho...

Seguindo o outro caminho, Larry teria problemas. Teria que envolver mais pessoas no projeto (de fato, estas deveriam ter sido envolvidas antes). Teria que renegociar prazos (provavelmente haviam sido mal definidos mesmo). Teria que solicitar uma verba adicional. Assumiria mais riscos. Mas entregaria algo realmente inovador para o cliente. Agregaria valor (para usar um termo da moda) ao negócio. Enfim, Larry estaria fazendo a coisa certa.

Qual caminho você acha que Larry escolheu? Qual você escolheria?

Muitas pessoas preferem "manter as métricas" a fazer a coisa certa. Justo. É muito mais fácil. Mas tente uma vez na semana, ou no mês, fazer a coisa certa. No trabalho, na vida pessoal, em qualquer escopo. A satisfação é fantástica, verdadeira, pura.

Quanto ao Larry, bom, ele escolheu o caminho mais fácil. Ele é um cara legal, só vacila de vez em quando.

Reggie, the Engineer.
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