terça-feira, 1 de junho de 2010

Subindo a Montanha Errada

Quem já praticou ou pratica montanhismo sabe que um dos maiores desafios de uma escalada é a falta de visibilidade. Quando você não enxerga direito o relevo ao seu redor, fica difícil ter certeza sobre como deve ser o próximo passo. A menos que você tenha um mapa, uma bússola e uma noção clara de onde quer chegar, dificilmente terá sucesso.

Mas e quando, além da falta de visibilidade, você também não tem um mapa? Pior ainda, e quando você não tem exata noção de onde quer chegar?

Se o contexto fosse montanhismo, a única alternativa seria ligar para o resgate.

Mas agora pare e pense no contexto acima como se fosse a sua carreira, a sua vida profissional. Por incrível que pareça, todas as pessoas encontram-se em tal situação, em maior ou menor nível. Sem visibilidade, sem mapa, e sem uma boa noção de onde chegar. Quer ver?

Por definição, na vida profissional não existe mapa. Não há uma descrição dos cenários e alternativas possíveis. Não existe um retrato do relevo e das dificuldades a serem encontradas. O mapa vai se formando apenas conforme percorremos o caminho - e aí pode ser tarde demais. Ele pode até nos ajudar a não andar em círculos, porque você vai saber quando estiver caminhando em terreno conhecido. Nada muito além disso.

Bússola todos nós temos, felizmente. Mas elas são diferentes dependendo da pessoa, e existem bússolas boas e ruins na vida profissional. A sua bússola é a sua métrica de satisfação pessoal. Pode ser o quanto de dinheiro você ganha (bússola geralmente ruim), ou o quão feliz você é no seu trabalho (boa bússola). Ela constantemente lhe dá uma leitura no local em que você se encontra, e com sorte indicará (pelo menos a curto prazo) a direção a seguir.

Por definição, novamente, nós não temos visibilidade do terreno que percorremos na nossa vida profissional. Imagine-se em uma cadeia de montanhas com uma neblina baixa, ou com nuvens, ou no escuro. Você até sabe se está subindo ou descendo, mas não tem certeza de que a montanha sendo escalada é realmente a que você tinha como objetivo.

Uma clara noção de onde se quer chegar é algo que alguns profissionais tem, a maioria não.

Qual o resultado desse cenário então?

O resultado é a realidade mais comum em termos de carreira: a busca por ganhos imediatos. Se você não tem noção de que montanha quer subir, e se lhe falta visibilidade e um mapa, uma das únicas coisas que você pode fazer é "seguir em frente". Você sabe quando está subindo e quando está descendo, então basta continuar subindo, e mais cedo ou mais tarde você chegará ao topo daquela montanha. A questão é, topo de qual montanha? A maioria dos profissionais segue nessa balada, onde o salário define a próxima posição, a inércia impera, e a bússola que faz uma pessoa seguir o norte mais aceito pelo grupo é a utlilzada. O ser-humano tende a super-valorizar o ganho imediato quando comparado a um possível ganho futuro. O máximo local em oposição ao máximo absoluto.

A boa notícia é que há uma saída para essa situação. E ela vêm da computação.

O problema da montanha é um problema clássico em computação. E existem algumas maneiras de se evitar o máximo local, tentando sempre buscar o máximo absoluto. Uma delas é inserir um pouco de flexibilidade no algoritmo. Um pouco de jogo de cintura.

Afinal, por que você tem que seguir sempre em frente? Por que sempre montanha acima?

O primeiro passo é ter uma noção mais clara de qual montanha se quer subir. Pergunte a si mesmo o que você quer estar fazendo em 10 anos. E então compare esse objetivo com a "montanha" em que você se encontra atualmente. Vale à pena continuar subindo ela? O caminho atual lhe levará até o objetivo?

Caso a resposta seja negativa, você necessariamente precisa inserir flexibilidade na sua escalada. Mesmo sem visibilidade, permita-se descer um pouco. Conheça o vale mais abaixo. Perceba que existem outros caminhos, até uma outra montanha logo ali ao lado. Experimente. Tente.

Tudo indica que mais e mais pessoas experimentarão múltiplas carreiras em suas vidas, por diversos motivos. Falar obviamente é muito fácil, mas realmente tentar diferentes alternativas e experimentar é importante para que o profissional possa chegar ao seu máximo absoluto.

Porque chegar lá em cima e só então perceber o erro é bem pior.

Reggie, the Engineer.
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