terça-feira, 29 de junho de 2010

Hora de Partir

No início da tarde fui à sala do Lucas para discutir um assunto que estava pendente entre as nossas áreas. Foi uma conversa curta, não mais do que quinze minutos nos quais elaboramos um plano de ação e cada um foi para o seu lado, garantir que as coisas acontecessem de acordo com o combinado. O trabalho com ele era assim, rápido e efetivo. Bem ao meu estilo. Antes de sair ele me entregou, disfarçando pelo lado da mesa, um envelope.
- Esse é o convite para o aniversário do meu filho. Um aninho. É que não vou convidar todo mundo aqui do escritório, apenas os mais chegados.
Agradeci e fiquei feliz por fazer parte desse grupo.

Uma hora depois foi a vez do Carlos, diretor Administrativo e Financeiro, aparecer na minha sala para resolver alguns problemas e colocar o papo em dia. Foi quando ele fechou a cara e disparou:
- Acabei de falar com o Lucas, ele foi demitido agora à tarde.
Putz! Não consegui pensar em mais nada, senão, Putz!
- Mas, eu falei com ele agora pouco, ele me convidou para o aniversário do pequeninho dele.
- Pois é, fazer o que? Mas ele está super bem, cheio de planos. Parece que já esperava por isso.
- Putz!

Logo em seguida, o próprio Lucas apareceu para se despedir. Trazia um semblante tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Passei a respeitá-lo ainda mais por isso. Honestamente, se eu fosse demitido, ou melhor, quando eu for demitido, não vou querer falar com ninguém. Diferente dele, que parecia ter tirado um peso de trezentos quilos das costas e até sorria. Durante aquela conversa rápida ele me deu uma verdadeira lição de vida e carreira:

- Cara, um amigo meu, um grande empresário, me disse uma vez: "Um executivo tem que estar constantemente provando o seu valor." Por melhor que você seja, por mais resultados tenha entregado no passado, história não ganha jogo. E pior, sempre tem um chefe novo, Diretor novo, Presidente, Acionista, que não conhece nada da sua história e cobra você pelos resultados imediatos. Mas, fazer o que? A vida é a assim, isso não é uma reclamação, apenas uma constatação. Tradição não ganha jogo, é fato.
Estou contente com o rumo das coisas e vou levar muitas lembranças boas daqui. Saio com a convicção de que deixei a empresa melhor do que quando entrei.  Mais ainda, saio uma pessoa melhor do a que começou aqui, principalmente porque tive a oportunidade de conviver com pessoas como você.

São momentos como esse que demonstram a fibra de um homem. Na vitória é fácil ser forte, educado, racional, mas é na derrota que mostramos quem realmente somos. No meu íntimo sentia um pouco de inveja dele. Inveja daquela postura corajosa perante aos desafios que viriam em frente, da atitude positiva. Mas, principalmente, inveja daquele brilho no olho, da certeza de um trabalho bem feito. Constatei, amargamente, que uma empresa cujos funcionários mais felizes são aqueles demitidos, não teria, jamais, possibilidades concretas de sucesso.

[]s
Jack DelaVega