quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Maldita Teoria dos Jogos

Sempre fui muito realista: se você está mal há algum tempo - a culpa é sua. Só sua. Você tem o poder e a inteligência de sair de uma situação que lhe deixe mal - nem que a solução seja pedir demissão, ficar sem fazer nada por 5 meses, apertar o cinto nas contas e voltar a trabalhar depois, com mais calma. Ou quem sabe só ajeitar o próprio dilema que está vivendo, resolver e seguir em frente.

Esses tempos, quando estava mal, embora já tivesse esse pensamento bem claro em minha cabeça, me sentia encurralado. Ainda não havia conseguido achar uma solução.

Mas o que fazer? Sou um nerd. Não podia ir a um psicólogo. Já havia ido quando me separei e é difícil acreditar no que eles falam. Mesmo possuindo uma psicóloga na qual confiava, não achava que estivesse diante de uma situação que ela resolveria mais rápido que eu.

Pois bem, aproveitei que o Mundo é dos Nerds, e fui entender a situação à qual estava inserido. Não só eu, você também. Hoje mesmo, provavelmente você esteja inserido na mesma situação - talvez só troque o CNPJ.

No livro Decision Making Using Game Theory, achei algum consolo. Sempre quis entender a teoria dos jogos a ponto de usá-la no meu dia-a-dia. E que hora certa para aprendê-la!

Para quem não conhece, vai uma rápida introdução: imagine que você e seu contador são presos por contrabando. As provas contra vocês são circunstanciais - fato que leva a polícia a usar uma artimanha. Cada um é colocado em uma sala separada, onde são interrogados. Se os dois confessarem o crime, pegam dois anos cada um. Se um confessar e o outro não, o que confessou só paga 10 cestas básicas e sai livre. O que não confessou fica preso por quatro anos. Se nenhum confessar, os dois ficam presos um ano - apenas pelo delito que é possível provar.

A teoria dos jogos analisa as reações de cada pessoa levando em conta que cada pessoa agirá no melhor interesse para si próprio usando as informações que ele possui a sua disposição. Existem dois tipos de jogos: o cooperativo, em que algum interesse comum existe, e o competitivo, também chamado de "zero-sum game", onde o perdedor não leva nada. Infelizmente, os dois jogos ocorrem diariamente em sua empresa.

O livro reforça isso, dizendo que você deve entender quais informações a pessoa possui e pensar na decisão que mais irá beneficar essa pessoa. Tem uma grande chance da pessoa tomar essa decisão: jogue o jogo de acordo com isso. Além disso, não pense que isso só ocorre com pessoas egoístas: de forma alguma. Isso é o espelho da reação humana - não seja ingênuo.

Infelizmente, vi muitos, mas muitos casos de pessoas agindo e tomando decisões baseadas unicamente em seu benefício próprio. E fui ingênuo em pensar que, em certas ocasiões, seria diferente. Assim, fui por um caminho que simplesmente não se concretizou, gerando mais stress.

Imagine você em uma cliclovia estreita. Tão estreita que não passam duas bicicletas lado-a-lado. Você está correndo na direção oposta de um outro ciclista. Os dois conseguem se ver. O que ocorrerá quando chegar a hora de um passar pelo outro? Bater não é interesse de nenhum, pois os dois têm um objetivo comum: continuar correndo.

Resposta correta não existe, pois depende muito do cenário. Mas, eu certamente pensaria nos seguintes pontos antes de tomar minha decisão:

  • Será que a pessoa é suficientemente educada ou medrosa para me dar a passagem se eu fingir não vê-la?
  • Quais as informações que ela possui sobre o jogo? Não existe alguma forma de fazê-la parar e me dar passagem e ainda assim ser bom para ela (com as informações que ela possui em mente).
  • Consigo algum histórico de ações dessa pessoa para saber qual tipo de decisão ela geralmente toma?
  • Posso eu mesmo parar, dar passagem e me beneficiar com isso?

Pode parecer ridículo, mas considerar que as pessoas são "egoístas" a ponto de tomar decisões que beneficiarão apenas a elas em um primeiro momento e saber qual nível de informação determinada pessoa possuía em determinado momento explicou 99% das ações que estava vivendo naqueles meses. Se tivesse essa informação antes, teria mudado muitas de minhas decisões...

E você? Confessaria seu crime, esperando que o seu contador não o faça, tendo uma chance de sair livre? Ou esconderia os fatos e arcaria com a chance de ficar quatro anos preso?

Tenha isso mente. Entenda o jogo antes que seja tarde demais...

Dr. Zambol
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