segunda-feira, 11 de junho de 2007

Por um fio

Estou pendurado no topo de um prédio de 16 andares. Convertendo em metros resultam em aproximadamente 48 metros. Não muito se analisarmos friamente, mas daqui de cima é uma bela queda. Com sorte morreria imediatamente, mas o problema é justamente ficar dependendo da sorte.
Estamos trancados, eu e um amigo. Como chegamos aqui? Já explico.
Ele constrói prédios, e é obcecado por adrenalina. Eu não tenho medo de altura e estou justamente na idade em que o sujeito começa a fazer coisas estúpidas para se sentir vivo. Casualmente o novo prédio dele dá de frente para minha sacada. Há trinta minutos ele me ligou e pediu para olhar na janela. Lá longe o vi no topo do prédio.
- Vamos fazer rapel?
Ele não é especialista, muito menos eu. Fizemos apenas uma vez há uns dois meses atrás e achei legal. É isso ou terminar de assistir a sessão da tarde.
Começamos a descida cada um em uma corda, amarrados pelo que chamam de cordão umbilical, uma tira de segurança ligando os dois. Foi justamente esse o problema. Desci mais rápido que ele, o cordão esticou demais e agora ele não consegue soltar a trava para continuar a descida.
Cinco, Dez minutos, já tentamos quase todas as opções.
Ele começa a ficar nervoso, num movimento brusco deixa cair o walkie-talkie. A visão do rádio se espatifando lá em baixo não é nada animadora. Estou calmo, estranhamente calmo. Faz parte da minha profissão. Sou o último a ficar nervoso, é o que esperam de mim. Acho que sou bom nisso. Sou bom em assumir riscos também, talvez até demais.
- Corta o cordão umbilical.
Ele reluta, pensa em outras opções.
- Pode cortar, em dois minutos estamos lá embaixo, o risco é mínimo.
Ele constrói prédios, é mais avesso ao risco do que eu, afinal se o sistema não funcionar o que pode acontecer? No máximo perdemos alguns milhares de dólares.
Resignado ele finalmente corta o cordão.

Desço devagar, aproveitando a paisagem. Em cinco minutos tocamos o solo.
Ele me agradece pela calma, mas não é nada de mais. Sou pago para isso.

[]s
Jack DelaVega