segunda-feira, 25 de junho de 2007

O Homem Errado

Dia desses me lembrei do Charles.
O Charles era um sujeito sensacional, gente boa, competente, um daqueles caras que fazem a diferença no ambiente de trabalho. Fomos colegas numa empresa anterior, onde ele era o meu gerente de conta. Posição difícil em uma empresa como aquela. Corrigindo, posição difícil para um sujeito como o Charles, numa empresa como aquela.

A função do gerente de contas consistia basicamente em prometer mundos e fundos para o cliente e recrutar uma equipe para realizar o milagre ao menor custo possível. Como milagres não acontecem toda hora, a empresa se valia de soluções criativas para redução de custos. No caso do nosso projeto era aplicado o recurso da “mala preta”. O cliente exigia que os prestadores de serviço fossem contratados CLT pela empresa tercerizada. A fim de reduzir custos, o contrato CLT cobria apenas parte dos nossos rendimentos, o resto era entregue em um envelope pardo apelidado carinhosamente de mala preta.

Com certeza essa não foi a única empresa a lançar uso dessa prática pouco ortodoxa de remuneração. E ainda que eu considere um absurdo nossa atual legislação trabalhista, não é preciso pensar muito para ver que um sistema como esse vai resultar em problemas mais cedo ou mais tarde. E foi o que aconteceu: No momento da rescisão de contrato entramos em conflito em relação aos direitos de cada parte com o que havia sido acertado no início do projeto. E lá estava o Charles, precisando defender o seu emprego, e, por conseguinte, o seu empregador. E para isso tendo que sacanear o time que havia contratado e gerenciado pelos últimos doze meses.

Foi com a cabeça baixa, sem nos olhar nos olhos que ele deu má notícia. Fez o que haviam lhe pedido. É injusto fazer qualquer juízo de valor nessa hora, cada um tem a as suas prioridades, afinal temos uma família para sustentar. Mas no caso dele, a consciência falou mais alto. Uma semana depois ele acabou deixando a empresa, “por falta de alinhamento com as diretrizes gerenciais”.

Definitivamente ele não a pessoa certa para esse tipo de trabalho. Fica a pergunta: O quanto alguém pode estar desalinhado com a sua empresa a fim de defender o seu time e os ideais que acredita? Quantos homens errados são necessários para mudar uma empresa?

[]s Charles, onde quer que você esteja.
Jack DelaVega