quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A Resposta

E então uma noite ele estava tentando dormir, virando para o lado tentando chacoalhar os problemas da cabeça, quando se deu conta de uma coisa: 
- Quando foi a última vez que havia tido prazer no seu trabalho?

Era uma pergunta simples, cuja resposta fazia toda diferença. Tinha feito um plano de carreira e perseguido seus objetivos com afinco. Galgou passos na hierarquia, venceu desafios, ganhou promoções. Mas, de um tempo para cá, sentia que algo foi perdido caminho. Como se o meio houvesse se tornado o fim. Não era ingênuo, sabia que no trabalho nem tudo são flores, conhecia bem os ossos do ofício. 
- Mas e se os ossos houvessem se tornado o ofício?

Aquele pensamento atormentou-o a noite toda, cansado, pulou da cama assim que o sol raiou. Tomou um banho longo, mas nem mesmo escovando os dentes o pensamento lhe deixava:
- Quem é esse sujeito do outro lado do espelho? 

Não gostava de usar gravata, nem sapato, passava longe deles nos poucos dias de folga. Esse era, porém, o seu uniforme há vários anos. No carro, o ar condicionado gelava os ossos enquanto a gravata apertava o pescoço. Poderia congelar aquele pensamento? Estrangular aquela sensação de frustração? 

- Cinco gotinhas de adoçante, do jeito que o senhor gosta. 
A senhora do cafezinho tinha quase o dobro da sua idade, no entanto, era ela que se dirigia a ele como "Senhor". Não era senhor, ou talvez fosse, mas, definitivamente, não queria ser. Queria ser mais um dos outros, sorrir mais, mostrar os dentes. As reuniões começavam e terminavam naquele dia lotado, mas a sua cabeça não voltava para o lugar. Pensava em fugir. Para onde? Pelo menos havia chegado a uma conclusão: Já sabia o que não queria mais fazer. 

Prestes a deitar, resignado com a perspectiva de mais uma noite de insônia e sofrimento, percebeu em sua caixa postal um e-mail de um antigo amigo de trabalho. O texto era algo simples e sucinto, algo mais ou menos assim:

"Cara:
Como vão as coisas por aí? 
Bom aqui elas continuam na mesma, mas tu sabe que eu acho que às vezes isso até é bom.
Quando vamos fazer aquele almoço para colocar o papo em dia? Imagino como deve ser a tua agenda agora, mas não pode ficar sem tempo para os amigos né.
Sinto falta de quando a gente trabalhava junto, falei com o pessoal aqui e todos têm a mesma impressão, tu era um cara que fazia a diferença, um dos poucos que se importava com as pessoas.

Aguardo o teu contato,
Um grande abraço"

Mal terminou a leitura e já tinha a resposta, se acreditasse em Deus diria que a mensagem fora enviada por ele.  Fazer novamente a diferença na vida das pessoas, era isso que faltava em sua vida. Dormiu tranquilo, com a certeza de que o amanhã traria o início de uma nova vida.

[]s
Jack DelaVega