sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Onde estão os próximos empreendedores de sucesso brasileiros?

O Brasil parece estar vivendo um momento único em termos de empreendedorismo tecnológico. Embora ainda nos falte estatísticas atualizadas, a sensação de quem está inserido nesse contexto (pelo menos a minha sensação) é de que nunca se falou tanto sobre o assunto. Nunca tivemos uma cobertura tão grande do empreendedorismo tecnológico por parte da mídia, nunca houve tanto capital disponível, nunca houve uma quantidade tão grande de eventos sobre startups. Como bem disse o Yuri Gitahy da Aceleradora em um post recente, "2010 é o ano zero". Empreendedorismo é o buzz do momento.

Mas onde estarão os grandes empreendedores brasileiros da próxima década? Aqueles que ainda vão surgir, que ainda não sabem que se tornarão milionários e bilionários, aqueles que não tem idéia de que em poucos anos estarão nas capas das grandes revistas nacionais. Onde eles estarão agora? Essa é uma daquelas perguntas de 1 milhão de dólares.

Eu acho importante pararmos para pensar no assunto porque, assim como em outros rincões desse mundo, existe uma imagem de quem é esse próximo empreendedor de sucesso, existe uma expectativa de como ele se parece, que muitas vezes não condiz com a realidade. O modelo da hora lá fora é o genial Mark Zuckerberg e seu titã Facebook - o sucesso do filme "A Rede Social" não ajuda um milímetro a exorcisar esse estereótipo (eu tenho que concordar que o filme é muito bom). O modelo de ontem era a dupla Sergey Brin e Larry Page, e seu queridinho Google. Qual o modelo brasileiro? Temos alguns bons nomes, alguns muito bons mesmo. Mas tenho a impressão de que ainda não apareceu aquele que será reverenciado por nerds tupiniquins em um uníssono "ooooommmmmmm". Por quê? Talvez porque estejamos esperando por aquele garoto genial, sem barba no rosto, tendo recém abandonado a faculdade.

Vamos aos números então. Quem sabe eles nos ajudam a entender como se parecerá o próximo empreendedor de tecnologia de sucesso no Brasil.

O GEM (Global Entrepreneurship Monitor) publica anualmente um extenso relatório sobre empreendedorismo ao redor do globo. Existe um documento específico sobre o Brasil, publicado em abril desse ano e relativo a dados coletados em 2009. Segundo o relatório, a idade média do empreendedor brasileiro gira em torno dos 35 anos. Porém, apesar de respeitar muito o trabalho realizado pelo GEM, acho que vários dos outros dados sobre o perfil empreendedor brasileiro são discútiveis. Por exemplo, mais de 52% dos empreendedores têm abaixo de 35 anos (deveríamos mesmo estar esperando pelo nosso menino prodígio?). Ou ainda, 53% dos empreendedores brasileiros são mulheres (o que nos deixa atrás apenas de Guatemala e Tonga em termos de empreendedorismo feminino - hein?). Além do mais, não existem informações sobre o background desses empreendedores: qual seu grau de escolaridade, faixa social, capital disponível experiência prévia, etc. Talvez porque a pesquisa não foque em um tipo específico de empreendimento (indústria específica, critérios de tamanho, etc), não me parece que ela auxilie na prática a entender quem é o empreendedor brasileiro.

Vamos então tentar usar dados externos e fazer um paralelo com o Brasil. Vivek Wadhwa é um professor americano engajado em descobrir o perfil de empreendedores ao redor do mundo. Ele ficou famoso exatamente por desafiar o estereótipo do empreendedor menino-prodígio. Segundo pesquisas publicadas por Vivek e sua equipe em 2008 e 2009, o perfil médio do empreendedor de sucesso nos EUA não lembra muito Mark Zuckerberg ou Larry e Sergey. Note que Vivek apenas se preocupa com o que ele chama de "empreendedores de sucesso", que segundo a definição da pesquisa são aqueles cujas empresas faturam mais de 1 milhão de dólares e empregam mais de 20 pessoas. Os resultados das pesquisas são um tanto surpreendentes. A média de idade com a qual os empreendedores fundaram suas empresas sobe para 39 anos - normalmente são casados e têm filhos. Eles têm experiência relevante em suas indústrias (entre 6 e 10 anos) e normalmente completaram no mínimo um curso de graduação. Na grande maioria dos casos, eles eram os melhores alunos da classe na escola, embora suas notas na universidade não sejam tão fantásticas assim. A grande maioria também não era marinheiro de primeira viagem - apenas 41% estavam no seu primeiro empreendimento. Outro dado interessante: a maioria dos empreendedores de sucesso nunca havia pensado em tocar o seu próprio negócio ao ingressarem no mercado de trabalho.

Enfim, qual será o perfil do empreendedor brasileiro? De onde podemos esperar o próximo dono de um negócio de 1 bilhão de reais? Será que devemos continuar procurando onde em geral a mídia (tradicional e de Internet) nos aponta? Será o próximo empreendedor de tecnologia de sucesso brasileiro um nerd de 21 anos com uma idéia genial embaixo do braço? Ou será ele um experiente gestor de TI oriundo de um grande banco? Um "antigo funcionário" de alguma das nossas grandes empresas da indústria do petróleo, talvez?

Difícil prever. Eu não tenho preconceito, pode ser qualquer um dos dois, e pode não ser nenhum deles.

Mas acho que o exercício acima é saudável para que, no mínimo, possamos dar um pouco mais de espaço para aqueles empreendedores que fogem do perfil "menino-prodígio". Em 2002, a professora Anne-Marie Maculan (UFRJ) publicou um estudo com pequenas empresas de base tecnológica em incubadoras. Os números sobre o perfil dos sócios dessas empresas eram claros: 60% tinham até 30 anos ao fundar a empresa. Mas outros dados também chamam a atenção: escassa experiência em gestão, desconhecimento da complexidade da organização de uma empresa, pouca ou nenhuma experiência na indústria.

Portanto me parece claro que apenas um rostinho com espinhas e um laptop embaixo do braço não é a resposta.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
--