quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Importância do bom Vilão - Reedição

De volta ao Brasil, nos encontramos em uma cafeteria. Eu andava louco de saudades de um bom expresso brasileiro. A conversa foi muito animada e começou mais ou menos assim:
- Eu nunca fui muito fã de hierarquia, talvez por isso não tenha ido para o exército, sonho do meu pai. Eu acredito que as pessoas tem que querer trabalhar com você. Pensa bem, em essência um gestor não faz nada.
- Só se for você, porque eu me ralo de trabalhar.
- Claro, quis dizer que essa é a percepção da maioria. A gente  organiza o trabalho, motiva, planeja, define estratégias em grande parte dos casos executa também. Meu ponto é que o grosso do trabalho é realizado pela equipe.
- Com isso eu tenho que concordar.
- Então, a pergunta de um milhão de dólares é a seguinte: Como fazer com que a equipe una-se ao redor de um objetivo em comum?
- Excelente pergunta, por que eu acho que você já tem a resposta?
- Bom, você sabe que sou um nerd de carteirinha, fã de histórias em quadrinhos, Arquivos-X, Senhor dos Anéis e qualquer coisa relacionada a Star Wars. Mas todos esses filmes, livros e histórias de super-heróis me levaram a pelo menos uma conclusão prática na vida profissional:
“Precisamos de um significado Mítico para nossas vidas.”
- Já explico, mas antes um pouco de contexto. Temos sorte de trabalhar com pessoas especiais. Remontando a hierarquia de necessidades de Maslow, os profissionais de nossas equipes normalmente estão nos níveis superiores da pirâmide pois, tipicamente, já supriram as necessidades fisiológicas e de segurança. Não estou fazendo juízo de valor, mas as preocupações de trabalhadores da construção civil, por exemplo, são totalmente distintas daquelas dos profissionais de alto valor agregado, que na maioria dos casos tem curso superior e não encontram muita dificuldade de colocação no mercado.
- Tudo bem, e daí?
- Bom, o desafio de quem trabalha com equipes de alto desempenho começa justamente por preencher as necessidades sociais de seu time, terceiro nível da hierarquia de Maslow. É fundamental que as pessoas sintam-se parte de algo maior, que compartilhem uma identidade com o grupo com o qual trabalham. É justamente aí que entra a minha teoria, o sentido mítico, a sensação de estar engajado é uma grande ferramenta para unir a equipe em torno de um objetivo.
- E o que isso tem a ver com ser um nerd?
- Todo herói que se preza tem um bom vilão. Vilões são fundamentais, tão ou mais importantes do que os heróis. Eles mobilizam as pessoas em direção a um objetivo, suprimem as diferenças, facilitam a construção de alianças. Cabe ao líder, na maioria das vezes, a escolha desse vilão. O vilão pode ser a concorrência, um problema que estamos tentando resolver, em alguns casos a equipe do lado ou até mesmo o próprio gerente. Alguns gestores fazem isso intencionalmente, mas a maioria faz por incompetência. Mesmo assim, arrisco a dizer que uma equipe unida contra o seu gestor pode ser melhor do que um time disperso.
- Então o segredo é escolher um bom vilão?
- Exatamente.
- E qual é o seu?
- Essa é fácil, Darth Vader, óbvio.

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