quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Zen e a Arte de Liderar Pessoas - Reedição

A paisagem lá fora era gelada, fruto do início de janeiro no hemisfério norte. Sentamos para conversar com os cafés perto da janela, prontos para confirmar a previsão de neve para o dia, coisa rara no inverno do Texas. Fui direto ao assunto.
- Você sabe qual é a sua missão dentro da organização?
- Desculpe?
- Sua missão, enquanto líder de pessoas.
- Nunca parei para pensar muito a respeito. Sei lá... Garantir que a equipe está trabalhando nas prioridades corretas? 
- Mais ou menos isso. A missão do líder dentro de uma empresa consiste em tirar as pedras do caminho e obter o melhor das pessoas. No final do dia, o que importa é garantir que todos estão desempenhando o seu melhor. Tirar as pedras do caminho é o meio para que isso aconteça.
- Você pode definir melhor as pedras?
- Pedras são os empecilhos que prejudicam o andamento do trabalho. São os processos inadequados, a burocracia, a falta de equipamentos ou treinamento. Cabe ao líder prover isso para a sua equipe, garantindo que eles tenham a disposição os recursos necessários.
- Entendi, mas o que fazer quando as pessoas na verdade são as pedras?
- Não acredito que as pessoas sejam más por natureza, normalmente elas tentam fazer o melhor que podem, dentro das suas limitações. O comum são pessoas desempenhando funções para as quais não estão preparadas, ou pior, funções que não gostam de desempenhar. 
- Tudo começa com a contratação das pessoas certas então?
- Exatamente. Ao contratar, mais do que gente qualificada, temos que buscar pessoas que gostam do fazem, isso facilita muito o nosso trabalho.
- Mas quando herdamos a equipe de um outro gestor? 
- Você conhece o livro: A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen?
- Não, nunca ouvi falar.
- Pois é, não sei como o mundo dos negócios ainda não descobriu esse livro, principalmente depois do hype ao redor da Arte da Guerra. Esse livro conta a história de um professor que vai morar no Japão e lá começa a praticar Kyudo, Arqueria Oriental. Ele relata sua jornada de aprendizado como praticante de uma arte Zen.
- E o que isso tem a ver com o nosso mundo?
- Calma que eu chego lá.  O livro tem inúmeras passagens interessantes, mas uma que me chamou atenção é a seguinte: O aluno estava executando um trabalho com o mestre, movendo grandes pedras no fundo do mosteiro com a ajuda de bastões de alavanca. Ao perceber que aluno estava com dificuldade de mover uma pedra, o mestre se aproximou. Pediu licença e colocou o bastão na base oposta a que o aluno estava imprimindo força. Como que por mágica a pedra começou a rolar para o outro lado. Ele então explicou:
- Algumas vezes você tem que empurrar uma pedra na direção que ela quer ser rolada.
- Não são poucas as vezes dentro das empresas que vejo líderes "empurrando" seus funcionários na direção que eles não querem rolar. É o sujeito com aptidão para vendas que acaba na área de operações. O analista, extremamente técnico que é promovido muito cedo a um cargo gerencial sem possuir a mínima vontade de liderar uma equipe.
- Acho que entendi.
- Por isso, para que que você possa cumprir a missão que conversamos anteriormente é fundamental que você conheça bem a sua equipe. Descubra para que lado cada pedra quer ser rolada e a melhor maneira de fazer isso.
- Movendo pedras... Nunca imaginei tirar uma lição disso. Olha lá!
Olhei pela janela e o chão estava coberto de branco, com flocos de neve caindo lentamente pelo ar.

[]s
Jack DelaVega