terça-feira, 3 de agosto de 2010

Comida

Conheci Cléber em uma entrevista de emprego. Eu estava contratando para a minha start-up e ele à procura de novos desafios. Tinha 23 anos, era formado em uma boa universidade, falava inglês, estava fazendo Alemão e um curso de pós-graduação. Não tinha, portanto, nenhum deficit de formação. Ele trabalhava há dois anos em uma multi-nacional, que oferecia toda a estrutura e pacote de benefícios que uma grande empresa possui. Não fazia sentido, para mim, a sua motivação para trocar de emprego.
- Pois é, eu fui recém-promovido.
Recém-promovido e procurando emprego, fiquei mais curioso ainda.
- Bom, deixa eu explicar. Acabei de ser promovido, passei do cargo de Analista I para Analista II. No contra-cheque a recompensa financeira foi boa, não posso reclamar, algo ao redor de trinta por cento.
- Trinta por cento?
Troco com você agora, pensei.
- O problema é que a minha promoção foi apenas no papel. Quero dizer, recebi mudança de cargo, aumento, mas no dia-a-dia continuo executando a mesma função, as mesmas tarefas. Pior, meu chefe continua exercendo o mesmo grau de supervisão que exercia quando comecei na empresa.

É claro que não podemos ignorar a parte financeira, mas, fico pensando se no tempo de meu pai os profissionais tinham a preocupação de Cléber. Naquela época, o grande objetivo de carreira era conseguir um emprego no “Banco do Brasil”, bom salário e estabilidade, não importava a função. Acho que foi nos anos noventa que a coisa começou a mudar. Lembro das palavras da diretora da minha faculdade no meu primeiro dia de aula:
- Eu fico muito contente ao constatar que a primeira pergunta que nossos alunos fazem em uma entrevista de emprego é “O que eu vou fazer” e não “Quanto vou ganhar”.

Mas, acredito que a geração Y, aqueles que vieram logo depois de mim e hoje se lançam ao mercado de trabalho, é muito mais enfática com relação a isso. Se foi Arnaldo Antunes que cantou para a minha geração:
“A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade”

Tenho certeza de que esse coro é repetido, cada vez mais forte, pelos profissionais que ganham o mercado nos dias de hoje.
Fica a pergunta:
- Até quando as empresas vão seguir com essa visão míope que separa vida e trabalho, ambições pessoais e profissionais?

[]s
Jack DelaVega