quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Pampeador e o Trovador

Paulo Gentille era uma assumidade em gerenciamento de projetos. Havia sido responsável por alguns dos mais complexos projetos do país. Era consultor, doutor, pesquisador, em suma, um grande entendido do assunto. Foi convidado para participar de uma mesa redonda sobre o tema em um congresso que acontecia em Gramado, na serra Gaúcha. O evento teria um sabor especial para Gentille, nos últimos anos seu título de melhor Gerente de Projetos da América Latina vinha sendo questionado. Rumores de um GP vindo lá do sul ganhavam força e o mito do tal Pampeador de Projetos ameaçava a sua hegemonia. Pois o tal Pampeador fazia parte da mesa de debates hoje, em poucas horas o mundo assistiria ao confronto dos dois maiores gerentes de projetos, mas apenas um sagraria-se vencedor. E Paulo tinha certeza do resultado.

Encontraram-se já na tribuna, em frente a um auditório com mais de mil pessoas. Gentille impecavelmente vestido em um de seus ternos de consultor e o Pampeador, de bota, bombacha e lenço vermelho. Na primeira fila sentava Sinval, assistente do Pampeador, ou como ele mesmo preferia chamar, seu Capataz de Projeto. O rapaz tentava se acertar com uma filmadora digital de última geração. Percebendo a confusão do jovem, Erci não perdoou:
- Ô guri! Tu filma direito esse negócio que eu não quero aparecer mais feio do que eu já no YoúTúbe.

Os debatedores falaram por trinta minutos, depois disso abriram para perguntas. Foi quando a coisa começou a esquentar:
- Vocês podem comentar os projetos mais difíceis que já gerenciaram?
Gentille adiantou-se a responder:
- Sem dúvida, o projeto da Urna Eletrônica foi um dos mais difíceis que eu já gerenciei, dada a complexidade do escopo e o tempo exíguo para a execução.
A resposta do Pampeador veio a altura:
- Olha, o que complica mesmo um projeto são os viventes. E quando mistura bugre de tribo diferente então é muito pior. Eu não sou de contá vantage, mas já toquei projeto que tinha uns cento e vinte indiano, três argentino, um padre e um canguru. O bicho pulava longe, mas quem deu mais trabalho foram os argentino mesmo. E prá piorar eles ainda torciam para o Boca.

O auditório caiu na risada. Gentille percebeu que estava perdendo terreno e resolveu lançar mão de seu super trunfo, seu recurso derradeiro.
- Mas não podemos falar de projetos grandes e complexos, sem lembrar de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, com milhares de trabalhadores envolvidos. Pois eu tive a oportunidade de ser o gerente desse projeto. 
A platéia parou em silêncio, aguardando a resposta do Pampeador. Esse olhou para o Sinval e tranquilizou baixinho:
- Pode deixar que o primeiro milho é dos pinto!
Em seguida disparou a resposta:
- Tenho que concordar contigo, esse foi grande mesmo. Eu conheço bem aquelas banda, já toquei projeto lá, mas foi bem antes da construção da usina.
Gentille estufou o peito para dar a estocada final no adversário:
- Mas antes da usina não tinha nada lá, que diabo de projeto foi esse?
Foi quando o Pampeador devolveu a rasteira:
- E quem tu acha que cuidou do projeto das catarata pro véinho lá de cima?


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Outras do Pampeador:

[]s
Jack DelaVega