quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Caçada - Reedição


Agachado ao lado do carro velho eu vejo o desgraçado passar. Ele vai apressado e não me vê. Espero um segundo e parto no seu encalço. Ele é idoso, desajeitado, não vai ter chances contra mim.

- O Senhor tem um minuto?
O velho concorda meio a contragosto.
- Eu queria lhe apresentar o Lúcio. Ele é o gerente que está começando conosco essa semana. Lúcio, esse é o nosso diretor.
- Novo gerente é? Vamos trabalhar bem próximos, tenho muito trabalho para você aqui.
Estendo o braço e recebo um daqueles apertos de mãos pastosos. O velho então dá sorriso estranho, difícil de interpretar. Saio com uma impressão ruim dele, o problema é que costumo estar certo nessas coisas.

Sigo me esgueirando atrás do velho, mas ele ainda não me viu. Aqui não existe hierarquia. Hoje a vantagem está do meu lado, sou mais rápido e mais forte. Além disso, conheço o bem o terreno. Mais alguns metros ele vai estar exatamente onde eu quero, encurralado.

- Recebi o seu relatório
- E...
- Está uma porcaria. Na verdade, porcaria é eufemismo, está uma merda mesmo.
- Mas coloquei apenas as informações que você pediu, do jeito que você especificou.
- Então você está dizendo que a culpa é minha? Além de incompetente é mentiroso. Rapaz, você não vai longe nessa empresa se continuar assim!

Ele olha para trás, como que pressentindo alguma coisa. Me escondo atrás de uma árvore. Ele continua em frente, desconfiado. Coloco a arma em punho, confiro a munição, respiro fundo e me concentro para a abordagem final.

Estava na fila para o embarque quando o telefone tocou. Era o velho. Não podia ser boa notícia.
- Sim.
- Você já embarcou?
- Não, estou na fila.
- Volte, eles precisam de você aí para prover suporte durante o fim de semana, caso tenham algum problema.
- Mas, eu combinei com eles o meu retorno. Qualquer problema eles podem me ligar, não faz sentido eu ficar aqui só para isso. Já estou a três semanas longe de casa e no domingo é dia dos pais.
- Eles mudaram de idéia. Querem você aí.
- Mas...
- A decisão é sua, mas se embarcar nesse avião vai ter todo o tempo do mundo para ficar com a sua família.

Ao virar em uma casa abandonada ele fica sem saída. Eu chego logo atrás. Miro na cabeça. Meu dedo titubeia um pouco antes de puxar o gatilho, mas não há o que hesitar. Disparo a queima-roupa, uma duas, três vezes, por todo o corpo. Então, tudo se cobre de vermelho. Eu não sou uma pessoa má. Talvez eu devesse me sentir arrependido, mas ao contrário, uma sensação de prazer toma conta de mim. Quem me dera todo dia fosse dia do Paintball da empresa.

[]s
Jack DelaVega