quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Políticas, Ah... Políticas


Eduardo era um sujeito organizado, daqueles que gostava da mesa limpa para trabalhar. Isso o ajudava a produzir, mesa limpa, cabeça limpa. Quanto mais espaço livre melhor. Foi pensando nisso que decidiu aparafusar o telefone na parede, afim de liberar mais espaço na mesa. Abriu uma OS, a famosa ordem de serviço, e aguardou o contato. Uma semana depois seu telefone tocava:
- Sr. Eduardo?
- Ele mesmo.
- Estou aqui com uma OS para aparafusarmos o seu telefone na parede, procede?
O sujeito tinha uma voz grave e pronunciava OS com certa reverência, como se fosse um documento secreto, protegido pela CIA ou algo do gênero.
- Procede, é isso mesmo.
- Lamento Sr. Eduardo, mas vamos ter que negar a sua OS.
- Como assim? Por quê?
- Pois é Sr. Eduardo, isso foge a nossa política corporativa, que não permite aparafusamento de telefones em paredes.
Eduardo estava perplexo.
- Política? Temos uma política específica para isso?
- Pois é Sr., como eu disse antes, aparafusamento de telefones não é compliant com a política, especialmente tratando-se de paredes de alvenaria.
Eduardo não conseguiu se controlar:
- Que política idiota!!
- Entenda Sr., já imaginou se cada um quisesse colocar o telefone onde bem entender? Que loucura seria essa empresa? São justamente regras como essas que nos diferenciam dos bárbaros!
- Pudera estarmos perdendo mercado, uma empresa que se preocupa com isso certamente está focando nas coisas erradas.
E desligou.
No outro dia trouxe uma chave de fendas de casa e aparafusou sozinho o telefone na parede da baia. Ficou imaginando quanto tempo a "Polícia Organizacional" levaria para identificar o delito e qual seria a pena para tamanha transgressão corporativa. Seria obrigado a tomar cafezinho frio pelos próximos três meses? Pior, participar das reuniões de revisão de status com o notebook desligado?

Meses depois, já havia até esquecido do incidente anterior. Foi quando almoçava na baia para adiantar o trabalho que derrubou refrigerante no head-set. A solução passava novamente por uma fatídica OS. Dias depois seu telefone tocou novamente e a mesma voz grave falou:
- Sr. Eduardo, temos aqui uma OS para substituição do seu head-set.
- Exato, o meu não está funcionando mais.
- Perfeito Senhor, mas o Sr. pode me informar o que causou o problema?
Eduardo hesitou, mas decidiu pela verdade.
- Eu deixei cair refrigerante sobre ele.
- Entendo Sr., infelizmente vou ter que negar a sua OS.
- Ah, você deve estar brincando comigo. Por qual razão?
- A política Sr., nossa política não permite a imersão de head-sets em meio líquido. O Senhor deveria saber disso, está no nosso manual do funcionário.
- Mas como? Eu passo quatro horas do meu dia no telefone, vou ficar com uma Lesão por Esforço Repetitivo desse jeito. E tudo porque eu estava almoçando na minha baia, trabalhando para a empresa.
- Almoço na baia Senhor?
- Sim, qual o problema com isso?
- A política Senhor, a política não permite...

[]s
Jack DelaVega