sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Who Wants to Live Forever...

Connor era um programador experiente. Na verdade, muito experiente. Já tinha sido vice-presidente de TI da coca-cola, diretor de informática da Microsoft e gerente de informática no Google. A pressão e a vida incerta tinham-lhe feito fazer um downgrade radical em sua carreira.

Agora, era programador Java em uma pequena empresa de offshore em Campinas. Ninguém ali sabia, mas Connor tinha muita experiência como programador também. Tinha iniciado em assembly de mainframes e alguns anos depois já programava COBOL como ninguém.

Sua volta às origens tinha despertado nele um sentimento de melancolia muito forte. Lembrou-se dos tempos que a única forma de se realizar um cálculo mais rápido era através de um ábaco. Ele já usava esse tipo de instrumento desde 1278. “Nossa, já se vão mais de 700 anos que comecei em informática se contar a minha experiência com ábacos”, lembrou saudosamente. Sim, Connor era um highlander e estava vivo a mais tempo do que gostaria.

Por ter tanto tempo na área, sua vivência era algo que saltava aos olhos. Por onde quer que passava, ele intimidava as pessoas com comentários que seriam muito além do que se esperaria de alguém naquela posição. E seus colegas atuais não eram diferentes. Por isso mesmo, mais uma vez, o isolaram do grande grupo com medo que fosse promovido ante de todos. Era nessas horas que Connor lembrava como o ser-humano era o mesmo de dois mil anos atrás – não tinha evoluído nada. Quando se sentia ameaçado, valia qualquer coisa para se proteger.

Mas a vantagem de se ter mais de dois mil anos de idade é exatamente a capacidade e a maturidade de superar os desafios de forma muito tranqüila. Sempre dizia para si mesmo quando via alguém reclamar que “queria ver é essas pessoas como escravas em plantações de bárbaros na idade média”. E realmente, tinha um pouco de razão.

O problema é que estava completamente farto da vida. Já havia se casado mais de 10 vezes e tinha visto todas as suas esposas envelhecerem e morrerem. Estava farto de ser isolado devido a sua capacidade. Estava farto da vida...

Mas aquele emprego tinha lhe motivado como já não se sentia há mais de cem anos. Mesmo sendo uma pequena empresa, sem nenhum plano de cargos e salários, e com um chefe considerado extremamente boçal e hostil por todos, se sentia esperançoso ali – se sentia bem, não sabia exatamente bem porquê.

- Ele vem vindo aí pessoal. Cuidado!

Após esse grito, vindo do colega do lado e dirigido para todos da sala, entrou o gerente de desenvolvimento, a pessoa mais odiada naquela empresa.

- Pessoal, soube que estamos atrasados mais uma vez! Infelizmente, vou ter que convocar todo mundo para um mutirão nesse fim-de-semana. E como sempre, quem não vier, terá sua cabeça cortada!

Connor sorriu.

"Ah, se os outros soubessem da minha motivação...", pensou em voz alta, enquanto olhava o desconforto de todos à sua volta.

Dr. Zambol
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