quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Nosso Poder de Superação

Nesses tempos de Olimpíadas, vale lembrar que nosso trabalho, assim como qualquer coisa nesse mundo, requer esforço, dedicação e sofrimento - ao menos se quisermos ter sucesso. Qualquer atleta sabe que sem esses três ingredientes básicos ele não consegue nada. Por que para os assalariados iria ser diferente?

É claro que os sofrimentos são diferentes, mas não é possível alguém ir muito longe no ambiente de escritório sem penar um pouco. Aposto que você nunca viu um arquiteto Java surgir do nada, não é? É claro que, assim como no esporte, genética e dom ajudam muito (Jack já escreveu um pouco sobre isso no post Mazaropi versus Taffarel). Mesmo assim, chega-se num ponto que o esforço é necessário: leitura, provas de certificação, cursos à noite e artigos são exemplos do que uma pessoa tem que passar para dar aquele pulo que nos leva ao próximo nível - talvez o pulo equivalente que um atleta dá quando consegue uma marca sul-americana, por exemplo, nos 100m rasos.

Uma de minhas cenas preferidas de todas as Olimpíadas é quando o nadador Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, entra nas eliminatórias dos 100m livres das Olimpíadas de Sidney (em 2000), completa o percurso em quase 2 minutos (o recorde mundial está em 47,50 segundos!), quase se afogando ainda no final, de tão mal que nadava. Devido ao esforço, ele foi ovacionado pelo público. Ele havia aprendido a nadar apenas 6 meses antes, num país que conta com apenas uma piscina de 25 metros. O espírito olímpico é isso mesmo, consagra quem merece. E nesse caso, ele realmente merecia ser ovacionado. Você pode ver uma reportagem e o vídeo completo no Youtube.

Mas o caso mais incrível que já vi na minha vida foi o caso da suiça Gabriele Andersen Scheiss, na primeira vez que as mulheres puderam competir em uma marotona olímpica, em Los Angeles, 1984. Aposto que ninguém lembra quem venceu a primeira maratona olímpica feminina - que deveria ser um grande feito - mas todos lembram de Gabriele. O calor e a exaustão fizeram com que parte do seu corpo ficasse paralisado. Naquele tempo, se um médico atendesse alguém durante a corrida, era desclassificado na hora. Por isso mesmo, Gabriele impediu que qualquer médico chegasse perto dela. Aliás, essa regra foi revista devido ao caso Gabriele. Hoje, atendimento médico não desclassifica o corredor.

Não uma, nem duas, mas mais de um punhado de pessoas morreram durante maratonas. Mas isso pareceu não assustar Gabriele. Ela tinha que terminar o percurso. O esforço e a capacidade de superação do ser-humano é algo inacreditável. Você pode assistir um vídeo do Youtube com a chegada dela aqui em 37o. lugar.

O esforço conta muito também no ambiente corporativo, acredite. Há alguns anos atrás, se tivesse que escolher entre um Taffarel (o que tem dom) e um Mazzaropi (o esforçado), escolheria de olhos fechados o Taffarel. Hoje, já pensaria duas vezes, tendendo na escolha do Mazzaropi, a não ser que o Taffarel em questão fosse dedicado. O tempo me ensinou que só o dom não produz muito sem ao menos um mínimo de esforço (ou você não se lembra do Romário?).

Mas o que queria destacar hoje é o poder de superação do ser-humano. Em uma avaliação de desempenho do seu time, não desista tão facilmente de uma pessoa. Acredite nela. Com uma boa supervisão, ela pode chegar onde você nem imaginaria. E uma lição de superação em um time, não muda apenas a pessoa, mas o time inteiro.

Uma boa Olimpíada de Pequim para você!

Dr. Zambol
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