quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Ética Clara como Cristal

Entrei na reunião. Estava eu e mais três gerentes. O assunto não era nada técnico. Iríamos discutir um problema relacionado com apelidos e algumas outras brincadeiras que estavam incomodando algumas pessoas do time.

O assunto não era novo para mim. Dentro do meu time, há apenas 20 dias antes daquela reunião, um desenvolvedor ficou extremamente irritado com o apelido que lhe haviam colocado. A reação dele em um almoço foi incisiva: disse que não havia gostado e que o pessoal tinha passado do limite, chegando até a desenhar uma linha imaginária na mesa, separando ele dos outros. Quando soube o que havia ocorrido, fui falar informalmente com o pessoal que havia colocado o apelido.

- Pessoal, não sou professor de segunda série. Tenho confiança que vocês vão saber enxergar o limite. Se souber que isso impacta 1% no trabalho, vou intervir.

Também tive uma conversa informal com a pessoa que havia recebido o apelido para garantir que ele sabia como se defender.

Meu medo de interferir naquele assunto era criar inimizade entre as partes, fazendo com que o problema não se resolvesse, apenas se mascarasse. E o que eu esperava ocorreu. A natureza fez as pessoas entenderem os limites e todos ficaram amigos alguns dias depois.

Mas vamos voltar à reunião. O problema principal era que um dos gerentes estava pessoalmente ofendido e estava com o sangue muito quente - queria uma solução urgente do assunto.

Minha estratégia estava montada:
1) Somos pessoas seniors, não podemos agir pela emoção. Vamos nos concentrar nos fatos
2) Não vamos fazer disso um caso absurdo. Isso ocorre e só precisamos falar com as pessoas envolvidas.

A reunião iniciou. Pelo tom do gerente ofendido vi que a reunião ia ser pesada – muito pesada. Foi quando uma voz iluminada ao meu lado falou calmamente:

- O meu ponto é que temos culpa nisso. Rimos dos apelidos e das brincadeiras. Somos coniventes. Indiretamente, até incentivamos esse tipo de comportamento para manter o ambiente descontraído.

Silêncio na sala. Mortal.

E não é que ele tinha razão? Só não tinha razão como tinha achado a causa-raiz de tudo. A reunião acabou rapidamente depois daquele comentário. Nos comprometemos a mudar a forma como nos comportaríamos diante de circunstâncias do gênero.

Vou ser sincero. Saí da reunião arrasado. Não por ter entrado com a estratégia errada. O problema é que percebi que mesmo se tivesse pensado nessa estratégia, não teria tido a coragem de segui-la naquele ambiente hostil. Logo eu, que falo sempre em fazer o certo pelo certo.

Mas cheguei em casa já um pouco melhor . Percebi que, depois de tanto tempo sem ver atitudes similares naquela empresa, podia contar com uma pessoa ética e honesta ao meu lado. Naquele dia, sem querer, ele não apenas resolveu a reunião, mas deu uma lição de humanismo para todos que ali estavam. Uma lição de vida.

Espero que a próxima vez não tenha dúvidas em fazer o certo.

Dr. Zambol
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