terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quando Tamanho Não é Documento

Quando se fala de ambições e planos de carreira, muitas escolhas geram debates acalorados. Trabalhar para o serviço público ou para a iniciativa privada? Trabalhar para uma empresa regional, nacional ou estrangeira? Trabalhar em uma empresa grande ou pequena?

Acho que eu já cobri brevemente esse último aspecto (empresa grande ou pequena) do ponto de vista de empreendedorismo em outro post. Ou seja, um empreendedor deve aspirar criar uma empresa do tamanho do Google ou pode se satisfazer com um negócio de 1 milhão de reais? Quanto é “grande o suficiente” e quanto é “muito grande” para uma empresa? Até onde se pode crescer sem que agilidade, cultura e foco sejam afetados negativamente?

Pois o Google, a menina dos olhos da Internet, pode ser novamente um exemplo a ser estudado. Só que talvez dessa vez o exemplo dado seja “o quê não fazer”. Você, como empregado ou empreendedor, é quem decide.

A motivação para escrever esse post surgiu nos últimos dias, após a notícia de que uma suposta oferta de compra por parte do Google no valor de US$ 6 bilhões teria sido rejeitada pelo Groupon. Para quem gosta de olhar um pouco além dos fatos (e assumindo que essas notícias sejam verídicas), trata-se de mais um passo em falso do Google. A realidade percebida dá indícios de uma empresa que começa a sofrer com o gigantismo, com o peso do seu sucesso.

O Google já não inova mais como no passado. As suas iniciativas na área social (Buzz) e de messaging (Wave) fracassaram enormemente. O Facebook desbancou o Google como porta de entrada para a Web – e comprou uma briga na questão de intercâmbio de informações que vai custar caro (além disso, hoje você já pode fazer busca na Web de dentro do Facebook e o motor utilizado é o Bing). Agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa estão de olho no seu monopólio na área de busca. E agora parece que nem mesmo a estratégia de inovar e buscar novos mercados via aquisições funciona como antes.

Será que tem a ver com o quão grande o Google se tornou?

Alguns indícios mostram que sim.

Existem depoimentos de ex-engenheiros do Google afirmando que os famosos 20% de tempo dedicados a projetos especiais podem ser uma faca de dois gumes em alguns casos. Quando do desenvolvimento do Google Wave, muitos engenheiros mostravam interesse em usar seus 20% de tempo para ajudar aquele projeto. Claro, qual engenheiro quer dedicar a sua fatia de 20% para algo que não tem a atenção dos executivos? A consequência é que projetos com destaque acabam recebendo uma enxurrada de recursos (verba e pessoas), o que não necessariamente contribui para o sucesso do projeto. Quem conhece o famoso “The Mytical Man-Month” sabe que para cada pessoa que se adiciona a um projeto existe um overhead significativo em termos de comunicação – perde-se agilidade em muitos casos. Se compararmos esse contexto ao de uma empresa pequena – ou uma Startup – percebe-se que em média equipes de projeto em empresas grandes tendem a ter muito mais pessoas do que o minimamente necessário, e isso em geral contribui negativamente em termos de agilidade e capacidade de inovação. Larry Ellison é famoso por sua atitude frente a equipes com baixa produtividade na Oracle: ele frequentemente aproxima-se desses times a cada 1 ou duas semanas e invariavelmente remove pessoas do projeto para alcançar melhores resultados.

Outro problema com grandes empresas, e possivelmente com o Google, é a “seriedade” associada a esse tipo de empresa. Diferentemente de Startups, empresas como o Google não podem se dar ao luxo de lançar produtos "inacabados" no mercado. Além disso, empresas grandes têm padrões, normas a serem seguidas – se você trabalha com tecnologia em uma grande empresa sabe o quanto é difícil introduzir práticas como desenvolvimento de software ágil, ou tecnologias recentes como Rails e MySQL. Empresas pequenas tendem a ser mais práticas quanto a esse tipo de debate, e essa abordagem normalmente implica em maior agilidade e capacidade de inovação.

Portanto, se você trabalha na área de TI e está planejando sua carreira – ou se é um empreendedor almejando crescimento significativo nos próximos anos, tenha esse aspecto com relação ao porte de uma empresa em mente.

Tamanho (como bem eu sei) nem sempre é documento.

Reggie, the Engineer (João Reginatto).
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