quarta-feira, 18 de março de 2009

Sociedade do Empadão

No meio do buffet eu encontro o empadão. Ou será um pastelão, sempre confundo os dois. É de camarão, e eu adoro camarão. O problema é o empadão, detesto empadões. Mais do que isso, tenho problemas com o conceito "empadão". A empada é a mais fina obra da engenharia culinária. Pequena, auto-contida, com todas as suas camadas e sabores condensados em um quitute único. Seja de palmito, frango ou camarão, a empada é perfeita, com a massa cercando o recheio na medida certa. Massa que sabe o seu papel de coadjuvante, e não se importa com isso. Me lembra um pouco a estrutura do Quindim, onde o coco convive com o a clara de ovo em harmonia.

Mas então a sociedade que nunca se satisfaz com nada tem que inventar o Empadão, a Mega Empada. Nessa lógica deturpada segue-se o raciocínio de que, se empada é bom, que dirá o Empadão. Mas aí, nada funciona. A diferença de escala joga contra o empadão, tornando suas camadas ressecadas o que não permite um saboreio uniforme, uma vez que o recheio sempre cai para os lados uma vez que ele é cortado.

Infelizmente vivemos hoje na Sociedade do Empadão. Onde conceitos que funcionam tão bem no micro, são teimosamente expandidos, perdendo o sabor e razão de ser. Quer um exemplo disso? Os mais velhos vão concordar comigo, o que aconteceu com Fausto Silva, apresentador irreverente que apresentava o programa Perdidos na Noite nas madrugadas de sábado para domingo nos anos 80? Pois é, ele virou o Faustão. Alguém aguenta o Faustão? Imagino que o mesmo tenha acontecido com "Galvão" Bueno, que certamente se chamava Galvo antes de ir para a Globo e se tornar um chato.

A boa notícia é que a Sociedade do Empadão está com os dias contados. Um sinal claro disso é o imenso sucesso dos produtos concebidos de acordo com a filosofia "menos é mais". Alguns exemplos:
- Google: Uma caixa de texto e um botão, quer menos do que isso?
- iPod/iPhone: meia dúzia de botões e sem manual do usuário.
- Twitter : Um blog com posts de 140 caracteres. Se alguém me dissesse que isso faria sucesso a um tempo atrás eu chamaria de louco.

Assinei ao blog Zen Habits na tentativa de aprender essa abordagem minimalista, também descrita no livro do mesmo autor, The Power of Less. O problema é que ainda não consegui tempo para ler. Talvez, para apreciar as empadinhas primeiro eu tenha que arrumar um jeito de me livrar dos empadões.

[]s
Jack DelaVega