segunda-feira, 23 de março de 2009

Planejamento de Carreira em Tempos de Crise

Uma crise do tamanho dessa que estamos vivendo é uma coisa interessante. Do ponto de vista de carreira, muda muita coisa. Por não estar no Brasil no momento, eu não estou com muita propriedade para falar sobre o contexto brasileiro, a não ser pelas notícias que tento ler diariamente (e que dão conta que o ano de 2009 será complicado) e pelas opiniões dos meus colegas Jack e Zambol. Mas posso falar com propriedade sobre a situação européia - e essa está seríssima, principalmente na Irlanda, um dos países mais afetados.

O 'interessante' da crise que mencionei anteriormente, e que tem a ver com carreira, é que as pessoas páram de fazer planos. De repente a maioria esquece onde estava na sua carreira e o foco passa a ser o presente - baixar a cabeça, trabalhar duro e esperar que a degola não chegue. Aquele aumento de salário, a promoção, aquela mudança de emprego, a progressão de carreira, o sonho de empreender, tudo isso fica em 'pause' momentâneo.

Mas daí eu penso, bom, e o que poderia ser feito? É, realmente, fazer planos de carreira ou manter o plano nos trilhos em tempos de crise não é uma coisa muito simples.

Se analisarmos de maneira simplista, existem 3 grupos de pessoas envolvidas nesse contexto: empreendedores, empregados e desempregados. Um empreendedor sofre de maneira singular com a crise, mas também a 'carreira' de um empreendedor funciona de maneira completamente diferente - tem uma relação muito mais direta com os resultados de seu negócio e com o andar da economia. Então vamos deixar esse grupo de fora. Ficam as pessoas que têm emprego no momento e as que estão desempregadas (podem ter perdido o emprego por causa da crise ou podem ser recém-formados, etc).

Se você está empregado em um período de crise dessa magnitude, o mais sensato mesmo é re-avaliar seus planos de carreira. Pode ser o momento para retardar alguns planos, infelizmente. Temos visto no noticiário (e quem vive dentro de um ambiente corporativo de grande porte sabe melhor do que ninguém) que coisas como aumento de salário, bônus e promoções são mosca branca no momento - dificílimo de se conseguir. Eu conheço gente que fez um trabalho sensacional no ano passado - mereceria uma promoção. Mas dado o contexto atual, nada feito. Se você estava planejando uma movimentação de carreira então, abra o olho. Esteja certo que você conhece o terreno onde está pisando. As coisas não estão fazendo muito sentido no momento, então você deve ter certeza de que tem todas as informações e garantias, do contrário pode ficar frustrado com uma movimentação de carreira que foi interrompida 'on-the-fly'. Eu por exemplo tenho visto empresas fazendo demissão em massa em um departamento e contratando 500 (sim, quinhentas) pessoas em outra área. Outro exemplo são os inúmeros brasileiros que vieram estudar inglês por aqui nos últimos meses e estão indo embora porque não conseguem sequer um emprego de faxineiro para se sustentar. Se eles tivessem toda a informação em mãos antes de dar esse passo, saberiam que o terreno não era seguro.

Se você está desempregado, bom infelizmente a situação é mais crítica. Muito embora existam mais opções, por incrível que pareça. Tenho amigos (2) que foram demitidos da empresa que trabalhavam em julho do ano passado, pouco antes do ápice da crise. São dois profissionais de notáveis habilidades, mas desde então procuraram emprego e não encontraram nada. Em Janeiro último decidiram então montar o próprio negócio. Estão indo muito bem, com mais clientes do que esperavam ter a esta altura. Sempre existirão os pessimistas a dizer que não é um bom momento para empreender. Não escute nenhuma atitude pessimista em tempos de crise - você não tem nada a perder mesmo. E quanto a empreender, há quem diga que não exista momento melhor do que agora. Mão-de-obra qualificada e sedenta por trabalhar no mercado é o que não falta. Se você tiver um bom produto, sempre é a hora certa.

Uma outra opção que tenho visto muitas pessoas afetadas pela crise (outro termo para 'desempregados') seguirem é voltar para o banco da escola. Sempre é bom mantermos nossas habilidades em dia com o que o mercado exige, e já que você está desempregado mesmo, por que não? Mas muito cuidado, essa pode ser uma opção perigosa. Primeiro porque ela demanda investimento - e em um momento desses qualquer despesa deve ser muito bem pensada. Segundo, tenha certeza de que você tem condições de despender o tempo necessário para se dedicar ao curso - e que não vai largar tudo ao primeiro sinal de um emprego que lhe oferecerem.

Quanto a opção mais óbvia (e mais difícil de todas) - conseguir um novo emprego - infelizmente não existem soluções mágicas. Existem muitas coisas no entanto que você não deveria fazer. Se você é um profissional qualificado e com experiência, resista à tentação de sair enviando seu currículo para toda e qualquer vaga. Mantenha o foco - como sempre, foco é tudo nessa hora. Volte para o básico - entenda quais são os seus diferenciais, qual a sua experiência mais relevante, onde você é capaz de agregar valor mais do que as outras pessoas, e coloque a sua rede de relacionamentos (networking) para funcionar. Eu não disse que ela ia ser importante?

Reggie, the Engineer.
--