quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

7 Flechas

Era o que dizia na entrada do beco. "7 Flechas", seguido de uma seta, que bem podia ser uma flecha. Nada promissor, pensou Diego, mas, contrariando todas as suas convicções, havia chegado até aqui. Era um homem desesperado. O terreiro ficava dentro de um barracão, com o interior ainda pior que o lado de fora. Lá dentro sentiu um cheiro forte de esterco de galinha e alguma coisa cozinhando, que não conseguiu identificar bem. Havia marcado uma hora com Seu Casemiro, e foi encaminhado até ele, pontualmente às 22hs.
A despeito de todos os estereótipos Seu Casemiro não era um afro-brasileiro. Seus olhos azuis e os cabelos brancos, outrora loiros, denotavam uma descendência Italiana ou Germânica. Porém, seu jeito de falar era característico de um bom Pai-de-Santo:
- Sunsê pode se sentar.
Diego sentou no banquinho desconfortável em frente ao velho mandingueiro.
- Sunsê está aqui por conta de mulher, quer ajuda no amor não é?
Mau começo, por que ele não fica quieto e pergunta qual o meu problema? Assim nos poupa o constrangimento.
- Na verdade não.
- Hmm, então é por causa do Jogo. Veio pedir para eu ajudar a fazer o seu irmão parar de Jogar.
Só se for para fazer o meu irmão parar de jogar futebol. Ele está acabando com a zaga do nosso time na pelada do fim de semana. Até que não é má idéia, mas não estou aqui para isso hoje.
- Não, hoje não.
- Intão o problema é com trabalho.
Finalmente, na terceira tentativa. Assim até eu acerto. 
- Pois é Pai Casemiro, o meu problema é com o meu chefe. Adoro a empresa que trabalho, adoro o que faço, mas nos últimos seis meses esse novo chefe tem tornado a minha vida um inferno. Já tentei de tudo, fazer o que ele pede, conversar, consultar com o RH, mas não tem saída. Ele simplesmente não é uma pessoa racional. Estou desesperado.
- Hmm, misefê quer que a gente feche os caminhos dele?
- Fechar talvez não seja a palavra certa, será que o Sr. consegue só dar uma obstruída? Na verdade o melhor mesmo seria fazer com que ele siga o seu caminho, o mais longe possível do meu.
- Intindi. Bom, a gente trabalha aqui com seguinte escala:
Então o velho deixou por um momento o sotaque de lado e encarnou o melhor dos vendedores.
- Alimentos não perecíveis são para trabalhos pequenos, tipo pipoca e cachaça. Para trabalhos médios o indicado são animais de duas patas, o mais comum é o uso de galinhas, mas podemos usar patos ou até gansos conforme o caso. E, finalmente, trabalhos fortes, o melhor mesmo são animais de quatro patas, que variam de cabrito a bezerro, dependendo da necessidade.
Diego levou menos de um segundo para tomar a decisão.
- Pois é, acho que não é hora de economizar. Vamos tocar com o bezerro então.
- Misefê fez uma boa escolha. Vamos jogar o caminho desse sujeito para bem longe do seu.
Ele deixou o local desconfiado, não acreditava em mandinga, mas já estava sem opções e, afinal, mal não podia fazer. Passou próximas semanas na ansiedade de que algo acontecesse, chegou a cogitar fazer uma ligação para o Seu Casemiro e pedir o dinheiro de volta, mas preferiu não se indispor com um pai-de-santo. Foi quando um colega lhe abordou no cafezinho, com o maior sorriso do mundo:
- E aí, você já soube do Rubens?
O coração de Diego palpitou e foi difícil esconder a ansiedade quando ele fez a pergunta:
- Não soube. O que aconteceu? Ele foi demitido?
- Que nada, está sendo transferido. Vai ser o novo diretor da nossa filial em Nova York. Casa e despesas pela empresa, e ainda ganhando em dólar. O mais estranho foi como tudo aconteceu. Parece que ele estava concorrendo ao cargo com outros dois candidatos, mas que era o azarão. No final do processo um dos candidatos sofreu um ataque cardíaco e o outro foi descartado porque teve uma discussão sem sentido com o presidente. Que loucura né?
- Loucura...
Diego estava perplexo, sentindo um misto de alívio e indignação.
Maldito velho mandingueiro! 
Realmente, com trabalho de animal de quatro patas não se brinca. 

[]s
Jack DelaVega