segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pizzaria São Carlos

A empresa ficava em uma cidadezinha ao lado de Porto Alegre, mas nem por isso o lugar deixava de ser um fim de mundo. Com exceção de três churrascarias, das quais uma era humanamente impraticável, eram raras as opções de alimentação.

Não que isso seja um grande problema para quem trabalha com TI. Ao longo dos anos, como bons ratos de laboratórios, fomos submetidos a extensos períodos de privação de sono e alimento. Aprendemos a sobreviver em um ambiente inóspito, com ar condicionados beirando o zero ou acima dos quarenta graus quando deixam de funcionar, efetivamente sem exposição nenhuma à luz solar. Nos tornamos as baratas do mundo corporativo. Fazemos parte do ecossistema, sobrevivemos sem que ninguém deseje a nossa companhia, temos certamente um propósito no grande plano do criador, ainda que ninguém saiba qual é.

Mas o fato é que naquela noite estávamos fazendo mais um serão para consertar os problemas do sistema. Lá pelas dez da noite a fome bateu. A geladeira da cozinha, na área de convivência, tinha apenas um ímã: "Pizzaria São Carlos".

Eram pequenas as chances de que ainda estivesse aberta e funcionando a essa hora, mas mesmo assim arriscamos a ligação. Por incrível que pareça estavam atendendo. Após cinco minutos de discussões acaloradas a respeito dos sabores (acabamos desistindo da metade de Champignon por que eles queriam cobrar mais três reais), fechamos com uma Calabresa e outra Quatro Queijos.

Quarenta e cinco minutos depois chegavam as pizzas, antes tarde do que nunca. Nada espetacular, mas um verdadeiro banquete para a fome que estávamos.

Foi então que já com a barriga cheia me peguei a olhar para o slogan da caixa da pizza:

"A Melhor Pizza do Bairro"

Devia ter batido uma foto, porque as pessoas não acreditam quando conto essa história. Fiquei imaginando quantas pizzarias existiam naquele bairro, lá onde Judas perdeu as botas. Sou a última pessoa para questionar ambições pessoais, e esse é um tópico recorrente nos nossos posts, afinal realização pessoal não vem necessariamente de um bom emprego, dinheiro ou status. Mas me chama atenção um sujeito que definiu a missão de sua empresa de uma maneira que fica difícil não ser o número 1.

[]s
Jack DelaVega
(Um dos três melhores autores de posts da Tribo do Mouse)