quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Não Puxa Não...

Você conhece o mito dos cavalos alados de Platão? Ele conta que a alma do homem conduz dois cavalos alados. O primeiro representa o espiritual, a harmonia, o melhor de nós. É um cavalo excelente. O outro, mais indócil, representa nossas emoções e paixões – tudo o que há de conflito dentro de nós.

Conta Platão que no início de tudo, antes de iniciarmos nossa vida nesse mundo, nos encontrávamos todos em fila a espera para subir. Pois então chega o momento, e todos começamos a subir. Na frente de cada fila (são 11 filas) vão os Deuses. Eles manejam magnificamente os dois cavalos e seguem sem nenhuma dificuldade. Atrás, o homem vai subindo lentamente, tropeçando no controle de seus dois cavalos. O cavalo que representa o bom, o belo, nos ajuda, e sempre puxa-nos para cima. O problema é o nosso cavalo arisco, que tem tendências a descer, pois dentro dele estão todos os nossos conflitos.

Todos querem subir, pois no fim há um buraco onde se sai e se pode ver as estrelas, a verdadeira beleza, os verdadeiros princípios, o mundo que dá origem a esse mundo de formas. Mas chega um momento que o homem tropeça e cai, puxado por seu cavalo arisco, fazendo com que voltemos a nascer.

O homem que conseguiu levar seus cavalos mais alto, ao menos conseguiu olhar o que acontece de cima, conseguiu ver mais alto, e essa imagem ficou gravada para sempre. A imagem desse mundo de beleza impacta a alma que ali esteve presente, para sempre.

Termina então o mito dizendo que devemos, como um de nossos maiores objetivos, fazer crescer as asas de nosso cavalo indócil, domá-lo completamente – ter controle total sobre ele.

Por que me lembrei desse mito hoje? Porque tenho visto que o trabalho muitas vezes torna nosso cavalo ainda mais arisco. Faz-nos esquecer do que somos feitos, para que viemos.

Talvez o problema seja a competição acirrada que lá exista. Ou talvez seja porque o trabalho mexe com nossa estima. Ou, quem sabe, simplesmente seja porque a pressão nos faça criar soluções unicamente voltadas ao lucro e a operação e nos esqueçamos do humano. Não sei.

Já disse algumas vezes nesse blog, mas queria repetir. Não há empresa sem pessoas. Essa frase, por si só, deveria colocar as pessoas em primeiro lugar. Mas mesmo que saibamos disso não conseguimos fazer essa conexão tão simples de A --> B. E aí começamos a perder nossos valores, nossas virtudes. Começamos a competir sem nem saber onde queremos chegar. Isso me assusta muito. Já vi isso acontecer mais vezes do que gostaria.

O que fazer? Não basta seguir a regra “Não faça aos outros o que você não gostaria que fizesse com você”. As pessoas têm valores muito diferentes. Você precisa não fazer nada de mal para as outras pessoas. E é aí que está a grande dificuldade. Você tem que se colocar no lugar da outra pessoa, ter empatia, e entender o que é bom para ela naquele momento (muitas vezes a própria pessoa não sabe o que é bom para ela).

Se você sentir seu cavalo arisco lhe puxando mais para baixo, não esqueça que você já está na Terra. Se continuar sendo puxado para baixo, talvez logo encontre o Luís Ciffer, retratado por Jack no post anterior.

Dr. Zambol.
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