Essa semana resolvi entregar dois
revólveres que estavam lá em casa para a campanha do desarmamento. Ao entrar no
site da campanha, tudo estava bem explicado. Eu teria que escolher um posto de coleta,
gerar uma guia de transporte, efetuar a entrega e receber um código para o
saque da gratificação, no valor de R$ 100,00 por arma. Um processo simples e
eficiente, pensei. Minha ingenuidade me fez esquecer o fato de estarmos no
Brasil.
Escolhi um posto da Brigada Militar perto
de onde eu trabalho. A primeira surpresa ao chegar o local foi o ambiente
desolador. O posto literalmente caía aos pedaços, com manchas nas paredes,
reboco faltando, fios elétricos e cabos de rede à mostra, e finalmente, um pote
sujo cheio de comida no meio da sala, onde um vira-latas da vizinhança se
alimentava alegremente.
As primeiras perguntas do oficial de
plantão foram justamente contra o regulamento da campanha:
- A arma é sua, está no seu nome, tem
registro?
A campanha toda prega que a entrega será
feita anônima, sem perguntas. Mas, como eu não tinha nada a esconder, esclareci
ao policial:
- Sim, ambas tem registro, pertenciam a
meu pai e avô.
- Deixa eu ver então.
Tirei com cuidado da mochila o .22 caindo
aos pedaços do meu avô, cujo risco maior era matar alguém de tétano, de tão
enferrujado que estava. Em seguida peguei o .38 de meu pai, esse em bom estado.
Foi nesse momento que eu vi os olhos do policial brilharem, e ele falou:
- Mas esse aqui está quase novo. Por quê
você não faz negócio com ele?
- Como?
Perguntei tentando esconder a
perplexidade.
- Esse aqui você pode vender. Dá para
pegar no mínimo uns R$600,00 por ele. Se você quiser pode deixar ele comigo que
eu conheço gente interessada.
O policial foi mais longe:
- Pena que tem registro, senão a gente
conseguia pegar mais ainda nela. O que você acha?
Desconversei da maneira mais polida que
encontrei, negando rapidamente a proposta. Ao constatar que não iria me convencer
a fazer negócio, ele então me explicou:
- A pessoa que faz o recebimento das armas
não está aqui hoje, se você quiser mesmo entregar elas é melhor ir direto na
polícia federal.
Conto essa história com pesar, pois sou um
otimista que acredita realmente que podemos ter um país melhor no futuro. Situações
como essa, porém, me asseguram que esse será um futuro que não terei o prazer
de presenciar, quem sabe os meus filhos, mais provavelmente meus netos.
[]s
Juarez Poletto