terça-feira, 25 de agosto de 2009

Verdades sobre Empreendedorismo no Brasil

Sempre me interessei bastante por empreendedorismo, e já faz um tempinho que venho querendo me aprofundar no assunto, especialmente no contexto brasileiro. Pois bem, semana passada resolvi fazer algo a respeito e comecei uma pesquisa mais estruturada sobre o assunto. Se tudo der certo, e se eu tiver tempo suficiente, vou postando algumas conclusões sobre o assunto aqui na Tribo.

O primeiro assunto que eu quero abordar é a cultura de empreendedorismo no Brasil. Eu sempre duvidei um pouco de notícias que panfleteiam coisas como "o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo". Vejam bem, não tenho nenhum prazer em axincalhar as coisas do nosso país, muito pelo contrário, mas acho que esse tipo de posicionamento faz uso de estatísticas nebulosas para tirar conclusões que nos beneficiem. É como o Lula anunciar com pompas que nunca se criaram tantas empresas no Brasil como em 2008. A estatística é verdadeira, mas se buscarmos a causa veremos que ela pode não estar exatamente no fato de termos um ecossistema bom para a criação de novas empresas, mas sim na explosão dos chamados "contratos PJ" que se popularizaram enormemente como forma de burlar o nosso defasado código trabalhista. Freakonomics explica.

Mas voltando à vaca fria. Realmente, existe uma métrica chamada TEA (Total Entrepreneurial Activity) que mede a atividade empreendedora como percentual do PIB de um país. O TEA do Brasil em 2008 ficou em 12%, o que coloca o país à frente da média americana e européia. Parece bom. O problema, como falei anteriormente, é a questão da cultura do empreendedorismo. O grande problema no Brasil é que a maioria dos empreendedores escolhe esse estilo de vida por necessidade, e essa é demonstradamente a pior maneira de se começar um negócio. Há poucos anos atrás, o Professor José Dornelas, um estudioso do assunto no Brasil, publicou um livro chamado Empreendedorismo na Prática, onde entre outras coisas ele relata algumas conclusões obtidas em um estudo realizado com 399 empreendedores de sucesso no país. Obviamente os resultados mostram que pouquíssimos empreendedores de sucesso começaram nessa vida por necessidade. Ao contrário, eles optaram por conduzir o próprio negócio principalmente (cerca de 80%) por terem identificado uma oportunidade. Parece óbvio, mas não é.

Outra questão cultural que seguidamente é lida de maneira errônea é o perfil do empreendedor brasileiro. Somos levados a acreditar que a nossa criatividade e o nosso jogo de cintura são atributos que nos colocam em vantagem como empreendedores. Mas a verdade é que o empreendedor brasileiro é o menos inovador quando comparado a uma série de outros países. Dados relativos a 2008 do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) mostram que menos de 5% dos empreendedores brasileiros introduzem novos produtos ou posicionam-se em novos mercados. Outro dia eu estava lendo um artigo da BusinessWeek em que a IBM relata estar, literalmente, apostando na inovação brasileira. O conteúdo do artigo não bate muito com o título, especialmente porque lá pelas tantas Berthier Riberto-Neto, o líder do centro de pesquisa do Google para a América Latina, afirma que a maioria dos estudantes da área de tecnologia vai trabalhar para empresas de outsourcing, enquanto o mercado precisa urgentemente de gente trabalhando com desenvolvimento de produto. É mais um caso em que os fatos contradizem as manchetes, infelizmente.

Nesse sábado, a Sarah Lacy vai ao Brasil. A Sarah é uma jornalista, colaboradora do TechCrunch, e está escrevendo um livro sobre empreendedorismo em economias emergentes. Por isso ela vai ao Brasil, para conversar com empresários locais e entender como anda a cena do empreendedorismo tecnológico no país. Eu não sei se ela vai ficar muito impressionada, principalmente porque ela esteve recentemente na China e em Israel. Ainda acho que o nosso ecossistema brasileiro é muito cruel com quem quer empreender, e infelizmente estamos em um momento da história em que quem investir nessa área vai se dar bem. Por isso resolvi começar a falar sobre o assunto mais a fundo. Espero que vocês colaborem com comentários. Quem sabe assim não fazemos algo de concreto a respeito.

Reggie, the Engineer (João Reginatto)
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