quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Morte ao Gerente – God Save the Leader

Esses dias li uma explicação sensacional sobre porque temos tantos gerentes e tão poucos líderes. A explicação, escancarada no livro Liderando Mudança, de John Kotter, que tive que ler como pré-requisito de um treinamento de liderança que fiz, fala que uma empresa começa bem, com os líderes necessários para que o negócio seja tocado. O líder inicial geralmente é o próprio idealizador e criador da empresa.

À medida que a empresa cresce, ela vai necessitando processos para que não se perca em seu próprio crescimento. Montar uma máquina ou prestar um serviço com cinco funcionários é uma coisa: se alguma coisa errada acontece, basta unir toda a empresa e explicar porque isso não deve ser feito e a forma correta de fazer. Sendo isso feito pelo próprio dono ou idealizador, a clareza e a motivação não podem ser maiores, pois ele geralmente tem toda a visão.

Mas os processos criados para suportar o crescimento da empresa não criam apenas padrões - criam burocracia como efeito colateral. Um novo papel então é criado para garantir que todos os empregados sigam os processos e os padrões definidos pela empresa: o gerente. Sim, o papel original do gerente é exatamente esse: um grande organizador, um guardião dos padrões e da burocracia criada devido ao crescimento da empresa.

Achei a explicação sensacional, pois explicaria porque temos tantos gerentes e tão poucos líderes nas empresas. Além disso, treinar um gerente é fácil, pois consiste em deixá-lo ciente do arsenal de regras e padrões criados. Sei que você já deve ter passado ou visto cursos desse tipo: (1) no processo de avaliação de pessoal, você deve levar em conta X, Y e Z; (2) aprovações de contas a pagar, quando ultrapassarem 200 dólares, devem ter a aprovação de A e B; (3) uma auditoria deve ser realizada a cada ano nos sistemas principais da empresa; (4) ...

Agora, como formamos líderes? Como fazemos com que uma pessoa seja seguida pelo seu time? Como garantimos que uma pessoa defina rumos de acordo com a visão estratégica da empresa e que o seu time acredite neles e o ajude a realizar essa visão? Não é uma pergunta nada fácil de responder, o que faz aumentar ainda mais a discrepância do número de gerentes e líderes no mercado.

A análise de “gerente x líder” no livro pára por aí, mas o problema é muito maior se for analisado com uma lupa. Essa visão está tão enraizada nas empresas que isso já é considerado um fato comum e normal. As pessoas não pensam em liderança – apenas traçam planos de carreira e se inscrevem em cursos para que sejam gerentes – geralmente apoiados pelos seus próprios gerentes (que muitas vezes não são líderes). Parece que o lado líder, por ser tão raro e tão difícil de ser treinado, está sendo cada vez mais esquecido. Tenho certeza que, se você está em um cargo de “liderança” em qualquer empresa, já deve ter ouvido do seu funcionário a resposta “quero ser um gerente” quando perguntou o plano de carreira do sujeito. Ou talvez você mesmo tenha falado isso quando foi perguntado dos seus planos futuros. Até aí, nada de errado.

O problema é se essa resposta estiver direcionada somente ao lado “gerente” e não de líder – que é o que geralmente ocorre. Já ouvi tantas vezes isso que, agora, toda vez que traço o plano junto com o sujeito e ele está convencido que quer ser gerente em 3, 4 ou mais anos, faço dezenas de perguntas para ver principalmente se (1) ele tem realmente o perfil de líder, (2) não quer ser gerente somente porque o gerente é o que aparentemente ganha mais e (3) se está ligado ao plano de vida do sujeito. Sem esses três pontos essenciais, não deveríamos aceitar nunca um plano de um funcionário para a gerência, pois certamente o plano, em si, não está correto. Estamos apenas contibuindo para aumentar ainda mais a discrepância entre gerentes e líderes no mundo.

Parece-me que esse tópico é que nem economia de água. Se você não fizer a sua parte, pode faltar água potável no futuro. Pense nisso, inclusive para sua carreira: se o seu próximo gerente não for um líder e lhe impuser somente um monte de regras burocráticas e padrões bonitinhos, você não terá o direito nem de reclamar.

Sorte que ainda temos Jack Welchs, Ricardo Semlers, Steve Jobs, Barak Obamas e alguns poucos outros que, de tão sensacionais, geram um monte de seguidores ajudam a manter a figura do líder vivo.

Dr. Zambol
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