segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Matemática do Absurdo

João passa exatamente 44 horas no emprego toda a semana. Na ponta do lápis são 8.8 horas de trabalho por dia ou 8 horas 48 minutos. Ele não gosta do emprego, gosta do que faz mas não gosta do chefe. Se sente tratado como peão. No seu tempo livre, pensa em tudo, praia, futebol, videogame, tudo, tudo, tudo, menos serviço. Seu chefe é um burocrata dos velhos tempos. É claro que João quer trocar de emprego, e já está procurando, mas antes, espera receber o bônus do fim de ano. Por sorte, o mercado está aquecido na sua área. Mais um mês, ele pensa. Já se acostumou a contar os minutos no escritório, contar os dias é praticamente a mesma coisa.

Marcos não bate ponto. Tem o que chamam de horário flexível. Ele sabe que horário flexível, não bater ponto, é um truque da empresa, e que só funciona com certos funcionários. No caso de Marcos, funciona perfeitamente. Ele chega por volta das nove da manhã, as vezes um pouco mais do que isso. Tenta sair logo depois das seis, mas nem sempre consegue. Marcos tem um chefe exigente, mas um chefe que ele respeita. Seu chefe valoriza as conquistas, mas não se contenta com pouco, e, quando é surpreendido, sabe dar a recompensa. Nos últimos cinco anos, o salário de Marcos duplicou. Sua vida na empresa não é um mar de rosas, mas ele não pensa em trocar de emprego, pelo menos por enquanto. Não é raro que no seu tempo livre ele se pegue pensando e resolvendo os problemas do serviço. Mas isso não é trabalho, ele faz porque gosta.

Luiz, chefe de João, se autodenomina um executivo linha-dura. Não dá pra dar mole para essa turma, é o seu chavão. Ele gosta de controlar o horário do seu pessoal. Costuma almoçar na própria empresa, esquentando a comida que traz de casa no microondas da cozinha. A vantagem é que antes da uma da tarde ele já está de volta ao seu setor, de onde fica esperando o pessoal voltar do almoço. É que o pessoal não precisa bater ponto quando sai para almoçar, uma falha tremenda do sistema. Mas Luiz é uma cara razoável, costuma aplicar a regra dos cinco minutos de tolerância, mais que isso, também, vira bagunça. No seu cronograma diário, o horário da uma às duas é sempre reservado para controlar quem está voltando atrasado do almoço e aplicar os devidos descontos. No último mês ele conseguiu salvar 57 minutos de trabalho do seu time, em tempos de melhoria de produtividade, isso que é ganho real.

Carlos anda contente. Nos últimos meses seu salário aumentou 20%. Na verdade, aumentar mesmo, não aumentou, mas ele está ganhando mais. É que Carlos descobriu a "Indústria das Horas-Extras". Na empresa sempre tem trabalho, e o seu chefe é rígido com o ponto. O que Carlos descobriu é que fazer horas extras é um grande negócio. No próximo Sábado ele está indo viajar a serviço. Vai passar três semanas no México. Ele sabe que vai ser bom para sua carreira. Mas no que ele mais pensa são nas horas extras que serão somadas ao contracheque. Afinal, ele vai estar viajando no fim de semana, e o taxímetro não para de contar, ainda mais que Sábado e Domingo a gente roda com "Bandeira 2".

[]s

Jack DelaVega