quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Novo Mundo sem Censura



A Internet tem uma característica incrível: ela é a voz do povo - ao menos do povo que a utiliza. Isso pode e vai contra o que muitas pessoas pensam: que deve haver uma censura prévia em tudo o que é visto e lido. Ora, é só acessar alguns sites, fazer algumas pesquisas na Internet, para ver que a censura hoje mudou muito - e tem ainda um longo caminho a percorrer.

O Paquistão acaba de bloquear o YouTube. Ele alega que o site tem vídeos “questionáveis” (leia-se: falam mal do Islã). Ele diz que se o YouTube tirar o conteúdo do site, eles podem voltar a apresentar o site naquele país – caso contrário não. Ridículo.

O Brasil já fez das suas. Tirou o YouTube inteiro do ar porque continha vídeos da Daniela Cicarelli. Mais um vez, ridículo. Mesmo que o pessoal do YouTube quisesse tirar os vídeos da Cicarelli, ele estava tão popular que eram incluídos novos a cada minuto. O que mais me chamou atenção é que, mesmo quando foi tirado do ar, ainda podia-se acessá-lo através de sites de proxy. Uma prova de que a censura da Internet é muito difícil de ser feita.

Sempre fui contra praticamente qualquer tipo de censura. Quanto às drogas, mesmo nunca tendo sido usuário de nenhuma, nem mesmo de maconha, sou a favor da sua liberação. Dá certo em alguns países e acaba com o tráfico, um dos maiores males do mundo de hoje. Mas você percebeu que eu falei “praticamente qualquer tipo de censura”, o que é diferente de “todo o tipo de censura”. Sites de pedofilia e assemelhados sou a favor de uma censura prévia, pelo fato óbvio: se não há sites desse assunto, não há incentivo financeiro, o que desacelera esse mercado como um todo, protegendo as crianças que são usadas para tal.

Para facilitar esse post, vou apenas abordar a censura digital. Nesse caso, gostaria de dividir a censura em dois tipois: (1) visando proteger a pessoa que lê ou assiste e (2) visando proteger as pessoas envolvidas na montagem/fabricação do artigo/vídeo. Existe uma diferença enorme entre as duas. A primeira, por exemplo, é o caso de sites com imagens pornográficas (de adultos) ou grupos que incentivam o racismo. Ninguém mata ou prostitui crianças para escrever ou filmar assuntos desse tipo. No segundo caso, estamos falando de vídeos de prostituição infantil (que exige que haja crianças fazendo o vídeo), tortura e outras coisas do gênero.

Para mim é claro que a censura to tipo (2) é salutar e deve ser realizada - é uma forma de combater o crime organizado. A do tipo (1) é que tenho sérias dúvidas: dúvidas se ela é salutar ou não e dúvidas se o esforço de combatê-la vale a pena. E o esforço aqui, acredite, é gigante. Vou expor alguns dados para que você saiba exatamente o que estou falando.

- MySpace, em agosto de 2007, tinha em média 67 bilhões de pageviews por mês (com 1,2 bilhão de visitas).
- Facebook tem hoje 65 bilhões de pageviews por mês, crescendo a uma taxa de 250 mil novos usuários por mês.
- A rede Yahoo! gera mais de 100 bilhões de pageviews por mês (por que você acha que eles declinaram a proposta da Microsoft? Imagine o potencial de marketing que eles possuem).

Números assustadores, não? Fica ainda pior quando se percebe que todos os sites acima possuem a capacidade de criar grupos (racistas, pró-aborto, pró-drogas, etc) e discussões que, com esse volume, são muito difícies de serem controlados. Cada usuário pode criar um grupo ou uma lista de discussão na hora que lhe "der na telha".

Por isso que, tratando-se da censura do tipo (1), tenho um pé atrás. Na verdade, os dois pés atrás. Assim como as pessoas possuem o direito de ler sobre porque os grupos racistas são a favor de humilhar e talvez até escravizar os negros, as mesmas pessoas têm o direito e a capacidade de ler sobre porque o racismo é tão ruim e causou tantos estragos na história da humanidade.

Acho que está na hora de governantes e juizes de direito entenderem que ninguém pára a evolução. O Brasil, mesmo considerando-se liberal, ainda cai e recai no erro de tentar fechar um site quando alguma coisa "sai fora do seu controle". Está na hora dessas pessoas entrarem no século 21. O século em que a censura está na educação, nos valores individuais, na informação e na escolha do que e quando ler - podendo ler tanto a versão do lado ruim como a versão do lado bom.

É a informação que vai nos libertar, não a censura...

Dr. Zambol
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