sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Lições do Tigre Celta

Fazem quase 6 meses que estou morando na Irlanda. Antes de ver com os meus próprios olhos, muito eu ouvi sobre o “Tigre Celta”. Chegando aqui encontrei um tigre que não ruge mais tão alto assim, mas ainda um país extremamente desenvolvido e com vocação para a inovação. Me lembrei do meu amigo Zambol falando sobre as lições do dragão e resolvi fazer esse post.

A Irlanda ficou famosa nas décadas de 80 e 90 pelo incrível desempenho econômico, e pela conseqüente transformação do país de primo-pobre da Europa em uma das economias mais pujantes do velho continente. As razões para essa transformação foram várias, e algumas das medidas perduram até hoje, como o enorme incentivo para a instalação de empresas de serviços, especialmente em áreas como tecnologia da informação e setor financeiro.

Mas quero focar na situação atual. Hoje, como falei, o tigre não ruge mais tão alto. Embora longe de uma crise (o país segue crescendo a taxas maiores que os seus colegas europeus, e o desemprego é baixíssimo), a Irlanda sofreu com a crise imobiliária, e sabe que não pode basear a sua estratégia apenas em incentivos fiscais para empresas multinacionais.

Está em andamento o NDP – National Development Plan, uma espécie de PAC irlandês. A intenção é solidificar a tendência de crescimento do país e preparar as empresas locais para guiarem esse crescimento. Nesse sentido, eu estava lendo no jornal outro dia que o governo havia divulgado uma pesquisa realizada como parte do NDP. O objetivo da pesquisa era determinar as maneiras mais eficazes e baratas de incrementar a produtividade e lucratividade das pequenas e médias empresas. Sabe qual foi o resultado da pesquisa?

Investimento em melhorias no ambiente de trabalho e práticas de gestão de pessoas.

Conclusão: o governo colocou em prática um plano nacional para ajudar as pequenas e médias empresas a melhorarem seus ambientes de trabalho e suas práticas de gestão de pessoas (mais detalhes em http://www.ncpp.ie/ e http://workplacestrategy.ie/). Os dados mostram que empresas com bons indicadores nessas áreas apresentaram em média uma produtividade 15% maior do que empresas do mesmo setor com indicadores pobres. De maneira similar, a lucratividade, a retenção de empregados e vários outros números mostraram-se melhores.

Esse é o tipo de coisa que eu aprecio na gestão de uma organização, empresa, estado, o que seja. Primeiro, me mostre os dados. Trabalho sério e científico com números sempre se mostra útil. Segundo: ação, execução. De nada adianta trabalhar nos números, garimpar e descobrir como as coisas funcionam, se depois disso não vier um consistente plano de execução, e claro, resultados. E terceiro: foco nas pessoas. Eu acredito que qualquer investimento em pessoas sempre é um bom investimento, e o governo irlandês provou com números que investir em melhorias no ambiente de trabalho e em práticas de gestão de pessoas dá lucro! Não é uma novidade para mim, mas certamente é uma novidade para um bocado de empreendedores e gestores do meu Brasil. Ambiente agradável? Ergonomia? Avaliações de desempenho periódicas? Planejamento de carreira? Conversa!! Vai trabalhar vagabundo!!

O tigre celta está nessa encruzilhada. Vem de um forte período de desenvolvimento, mas uma dúvida paira no ar sobre se o país consegue continuar nessa tendência, ou se pode vir a enfrentar uma crise em breve. Mas eles parecem entender a importância das pessoas e da gestão qualificada melhor do que muitas empresas que conhecemos. Nisso podemos aprender com eles.

Reggie, the Engineer.
--