quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Primeiro Dia

Ele passou as primeiras ondas, a arrebentação e nadou até não ter mais pé. Com o peito apertado encheu os pulmões e mergulhou o mais fundo que pôde. Submerso, abriu os olhos e aproveitou o silêncio que só o mar proporciona. Perdeu a noção do tempo ali. Dois minutos? Cinco? Queria ficar mais, não conseguiu. Já como peito ardendo subiu à tona. Tirou a cabeça d’agua e sorveu o ar com força. Sentiu-se vivo novamente, e abençoado por isso. À sua frente contemplou o vazio do oceano, virando em direção a terra viu os prédios, barracas de praia e os carros passando.

Talvez tenha sido a apneia, mas o fato é que a epifania surgiu forte na sua cabeça, como se finalmente tivesse desvendado o grande segredo da vida. A metáfora era clara como a água na qual se banhava. Ao longe, as construções representavam sua história, realizações, quem ele era, a bagagem acumulada e o que o trouxera até aqui. À frente, porém, o mais importante: Uma imensidão de possibilidades.

A depressão deu lugar a um sentimento de euforia. Entendeu, finalmente, que todo homem a deriva é o senhor do próprio destino. Compreendeu poder e a responsabilidade por trás do livre arbítrio. A decisão de mudar ou manter era sua, somente sua. Podia fazer, desfazer, construir, melhorar, crescer, apenas uma coisa não lhe era permitida nesse momento: Ficar parado no mesmo lugar. Já não importava mais se havia vivido metade da vida, era como se tudo começasse novamente. Ou nadava para alguma direção, qualquer que fosse, ou deixava as correntes marítimas tomarem posse do seu rumo.

Se a decisão mais difícil já havia sido tomada, remar, agora faltava decidir para onde. Percebeu que, para um homem em sua posição, remar à frente era uma decisão tão válida quando voltar à praia. Ficou indeciso por um nanosegundo, mas, finalmente, decidiu voltar. As cicatrizes poderiam até não se apagar, mas com o tempo até as feridas mais profundas deixariam de doer. E o ano novo, ah, o ano novo apresentaria centenas, milhares de encruzilhadas, se ele ao menos conseguisse escolher o caminho certo em algumas delas.

Ele remava forte, mas o percurso de volta à praia demorou mais do que deveria, tamanha a pressa em seu coração. Sentiu os pés tocaram a areia, primeiro de leve, tentando se afirmar, mas logo ganhou firmeza nos passos. Correu até sair completamente da água. Já na praia, sentiu o sol aquecer-lhe a pele e agradeceu, pelo simples fato de ter chegado até ali. Sereno, caminhou em direção aos prédios.

Era o primeiro dia, do resto da sua vida.

[]s
E um grande 2012 para todos nós
Jack DelaVega