quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Para que você é pago afinal?


Aquele foi um dos maiores projetos que eu gerenciei, cronograma apertado, escopo crescendo e uma equipe recém-formada, trabalhando junto pela primeira vez. Para completar, eu ainda era verde como Gerente de Projetos, conhecia a técnica, achava que tinha a “mãnha”, mas de fato me faltava a prática.

Foi quando me ofereceram um grupo de consultores que chegavam para trabalhar a peso de ouro. Profissionais altamente qualificados, certificados, o escambau, o tipo de recurso que qualquer Gerente de Projetos gostaria de ter a sua disposição.

Aguinaldo era um carioca, programador que havia recém se mudado para o Sul, em parte buscando oportunidades, em parte encantado pelas beldades locais. Trabalhava bem, mas nada que saltasse aos olhos. Na volta do feriado de ano novo, porém, o sujeito não apareceu. Acionei a consultoria, mas ninguém sabia dele. Foi dar as caras só dois dias depois, com a desculpa de que ficou preso no engarrafamento e o carro havia estragado na estrada em Santa Catarina.

O primeiro sinal deveria ter sido o bastante, deveria ser o suficiente para solicitar a troca de recurso, mas eu era jovem acreditava mais nas pessoas. Todos têm, afinal, direito a um erro. Acabei relevando. Decisão errada. Três semanas depois, com o projeto a todo vapor, o evento voltou a acontecer. Nada do cara em uma segunda-feira. No final da tarde conseguimos contato telefônico para ouvir uma história sem pé nem cabeça: A namorada havia saído de casa e o trancado dentro, ele tinha ficado preso sem conseguir sair.

Eu já sabia o que precisava fazer, só me faltava a coragem para fazê-lo. Fiquei racionalizando, analisando minhas opções por alguns dias, procrastinando a ação. Foi quando o líder técnico me procurou com uma preocupação que beirava a indignação:
- Jack, estamos até as orelhas de trabalho e o cara não aparece para trabalhar!
E completou com uma pérola que eu me lembro até hoje:
- Ou esse sujeito é um mentiroso, e por isso não serve para trabalhar conosco, ou ele é muito azarado, e também não serve, pois vai nos afundar junto com ele.

Minutos depois eu faria a primeira demissão da minha carreira, em frente a uma pessoa que implorava, já com os olhos rasos d’agua, por mais uma chance.

Tirei algumas lições dessa história. Primeiro, somos pagos justamente para tomar decisões difíceis, fazer o que é certo normalmente não é o mesmo que fazer o que é fácil. Mas, mais importante, quando o líder não assume o seu papel, fazendo o que deve ser feito, ele compromete severamente sua capacidade de atuação. É para isso que somos pagos, para isso que estamos aqui.

[]s
Jack DelaVega.