Aquele
foi um dos maiores projetos que eu gerenciei, cronograma apertado, escopo
crescendo e uma equipe recém-formada, trabalhando junto pela primeira vez. Para
completar, eu ainda era verde como Gerente de Projetos, conhecia a técnica,
achava que tinha a “mãnha”, mas de fato me faltava a prática.
Foi
quando me ofereceram um grupo de consultores que chegavam para trabalhar a peso
de ouro. Profissionais altamente qualificados, certificados, o escambau, o tipo
de recurso que qualquer Gerente de Projetos gostaria de ter a sua disposição.
Aguinaldo
era um carioca, programador que havia recém se mudado para o Sul, em parte
buscando oportunidades, em parte encantado pelas beldades locais. Trabalhava
bem, mas nada que saltasse aos olhos. Na volta do feriado de ano novo, porém, o
sujeito não apareceu. Acionei a consultoria, mas ninguém sabia dele. Foi dar as
caras só dois dias depois, com a desculpa de que ficou preso no engarrafamento
e o carro havia estragado na estrada em Santa Catarina.
O
primeiro sinal deveria ter sido o bastante, deveria ser o suficiente para
solicitar a troca de recurso, mas eu era jovem acreditava mais nas pessoas.
Todos têm, afinal, direito a um erro. Acabei relevando. Decisão errada. Três
semanas depois, com o projeto a todo vapor, o evento voltou a acontecer. Nada
do cara em uma segunda-feira. No final da tarde conseguimos contato telefônico
para ouvir uma história sem pé nem cabeça: A namorada havia saído de casa e o
trancado dentro, ele tinha ficado preso sem conseguir sair.
Eu
já sabia o que precisava fazer, só me faltava a coragem para fazê-lo. Fiquei
racionalizando, analisando minhas opções por alguns dias, procrastinando a
ação. Foi quando o líder técnico me procurou com uma preocupação que beirava a
indignação:
-
Jack, estamos até as orelhas de trabalho e o cara não aparece para trabalhar!
E
completou com uma pérola que eu me lembro até hoje:
-
Ou esse sujeito é um mentiroso, e por isso não serve para trabalhar conosco, ou
ele é muito azarado, e também não serve, pois vai nos afundar junto com ele.
Minutos
depois eu faria a primeira demissão da minha carreira, em frente a uma pessoa
que implorava, já com os olhos rasos d’agua, por mais uma chance.
Tirei
algumas lições dessa história. Primeiro, somos pagos justamente para tomar
decisões difíceis, fazer o que é certo normalmente não é o mesmo que fazer o
que é fácil. Mas, mais importante, quando o líder não assume o seu papel,
fazendo o que deve ser feito, ele compromete severamente sua capacidade de
atuação. É para isso que somos pagos, para isso que estamos aqui.
[]s
Jack DelaVega.