quinta-feira, 16 de junho de 2011

Iceberg


- Érica, Érica...
Silêncio. Ela parecia que não estava lá, olhos fechados, concentrada como um lutador de MMA prestes a entrar no ringue, o tempo passava devagar naquele momento.
- Vamos recomeçar, trinta segundos e aí é tudo com você.

Érica pulou da cama assustada, o despertador teimava em tocar incessavelmente. Olhou a hora só para constatar o que já imaginava, estava atrasada, novamente. Essa seria uma semana crucial para sua carreira. Precisava finalizar a venda para um dos seus novos clientes. Uma conta difícil, mas, fundamental para o atingimento das metas do ano. Chegando à sua mesa encontrou o chefe saindo:
- O cliente não gostou da nossa proposta, marcou uma reunião para amanhã para discutirmos o assunto.
- Hmm, o que foi dessa vez?
- Não está convencido com a nossa solução, acha que o que eles tem hoje já atende as necessidades deles.
- Ok, vou trabalhar nisso.
- Ah, outra coisa.
- Sim.
- Você ainda está me devendo uma apresentação para a festa de aniversário da empresa. Ainda falta um candidato para o “Show de Talentos”.
- Tudo bem, pode deixar que eu vejo isso.
Maldita hora que havia se voluntariado para organizar o tal Show de Talentos.

- Frio na barriga?
- Está brincando? Parece que eu engoli um iceberg.
- É sempre assim? Quer dizer, vai ser sempre assim? Essa adrenalina, o nervosismo...
- Com o tempo você acostuma, fica uma pouco mais fácil, mas o frio na barriga, esse espero que você nunca perca.
- Sério?
- Esse é sinal que você está fazendo algo fora da zona de conforto. Que está crescendo.
Agora volta lá e mostra pra eles porque eu contratei você.

Quinta-feira no fim de tarde e nenhum candidato a fechar a apresentação na festa da empresa, menos de vinte e quatro horas para o evento. Todas suas opções falharam. Todas, menos uma, mas preferia não pensar nessa hipótese.

Depois de quinze minutos de argumentação ela sumarizou:
- O Sr. entende agora por que a solução atual de vocês não atende? A sua empresa está perdendo dinheiro e competitividade.
O executivo a olhou nos olhos
- Estou convencido, negócio fechado.

A cortina se abriu e ela viu o auditório lotado. As pernas tremeram, achou que iria cair. Segurou forte o microfone procurando apoio. Então, teve uma experiência quase que extracorpórea. Viu-se como de um camera, sobrevoando o auditório lotado até que encontrou-se no meio do palco novamente, encarando a multidão de colegas. As pupilas dilataram-se, abriu a garganta e soltou a voz. Imediatamente o medo passou. Estava em casa.

[]s
Jack DelaVega